quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

"Crise elétrica no horizonte?", por Adilson de Oliveira

O Globo

  • Reservatórios cumprem funções mais nobres que a geração de eletricidade. Muitos são essenciais no abastecimento de água
Depois de um período favorável de chuvas e temperaturas amenas em dezembro passado, o Operador do Sistema Elétrico (ONS) foi surpreendido por um período de forte estiagem e temperaturas elevadas neste mês de janeiro. Para atender ao brutal aumento do consumo de energia (10%) provocado pelas temperaturas elevadas, o ONS está despachando praticamente todo o parque gerador térmico disponível. E, mesmo assim, tem sido obrigado a esgotar paulatinamente os reservatórios hidrelétricos para evitar o racionamento de energia.

É importante notar que os reservatórios hidrelétricos cumprem funções mais nobres que a geração de eletricidade. Muitos deles são essenciais no abastecimento de água das populações que vivem em seu entorno. Mais ainda, eles disponibilizam a água necessária para irrigar a produção agrícola que faz chegar os alimentos à mesa dos brasileiros. Estancar o atual processo de esgotamento dos reservatórios hidrelétricos é indispensável para evitar uma potencial crise que não se limitaria ao abastecimento elétrico.

A situação atual dos reservatórios hidrelétricos não é alarmante. É, porém, preocupante. Se a temperatura e a precipitação de chuvas permanecerem nos patamares atuais nos próximos meses, os reservatórios das regiões Sudeste e Nordeste chegarão a níveis críticos antes do verão de 2015, tornando inexorável um novo período de racionamento elétrico. Para evitar esse risco, é preciso tomar medidas imediatas.

A Aneel indica que diversas obras que ampliariam significativamente a capacidade de oferta de energia do sistema estão com seus cronogramas atrasados. Por outro lado, o ONS informa que parte significativa do parque gerador térmico existente não está disponível para ser despachada. Também é consensual que uma parcela significativa do atual consumo de energia pode ser evitada com políticas de conservação de energia. Para que a situação atual não se torne alarmante em mais alguns meses, é preciso adotar medidas imediatas nessas três frentes.

O ajuste dos cronogramas dos projetos de expansão da oferta e a remoção das barreiras que impedem o despacho das térmicas existentes ampliarão a capacidade de oferta. Um programa de incentivos para a eficiência energética reduzirá a pressão da demanda. Tudo somado, o preocupante esgotamento dos reservatórios hidrelétricos será estancado, evitando que o quadro atual evolua para uma situação alarmante.

É preciso reconhecer, contudo, que essas medidas levam tempo para se tornarem efetivas. Um plano de contingência necessita ser estruturado, para o caso de essas medidas não produzirem os resultados almejados a tempo e à hora. Nessa circunstância, a solução de menor custo social é a negociação com os grandes consumidores de energia de condições econômicas para a redução voluntária do seu consumo de energia. O preço da energia ofertada por algumas das centrais térmicas em operação ultrapassa largamente o custo de oportunidade da energia que esses usuários consomem.

Para os contribuintes, a má notícia é que o fluxo de recursos fiscais direcionados pelo governo para subsidiar a geração termelétrica deverá permanecer no mesmo patamar de 2013. Para os consumidores, a má notícia é que será necessário aumentar as tarifas elétricas no próximo ano.