sexta-feira, 30 de maio de 2014

Youssef, doleiro da gangue de Lula, pede ao STF anulação das provas

Robson Bonin - Veja

Advogados do doleiro querem invalidar quebras de sigilo e evidências colhidas durante as buscas e apreensões da Polícia Federal. Decisão adotada em 2010 pelo juiz Sérgio Moro justificaria o pedido, diz a defesa

             


Está na mesa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, desde a tarde de quarta-feira, um pedido que pode provocar uma verdadeira reviravolta na Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Protocolado pelos advogados do doleiro paranaense Alberto Youssef, o documento de 62 páginas solicita ao Supremo a anulação de todas as provas que fundamentam o caso. Deflagrada em março deste ano, a investigação da Polícia Federal já revelou o envolvimento de pelo menos sete deputados e um senador da República nos negócios do doleiro paranaense, preso por chefiar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado 10 bilhões de reais.

O alvo dos advogados no pedido levado ao STF é o juiz federal de Curitiba Sérgio Moro. A defesa do doleiro apresenta ao ministro Teori Zavascki uma decisão assinada por Moro em maio de 2010, na qual o magistrado se declara suspeito para atuar numa ação que trata da delação premiada concedida a Youssef, para que colaborasse com a Justiça em outros fatos criminosos apurados pela Polícia Federal.

Na ocasião, a discordância da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre termos da delação levou Sérgio Moro, responsável pela concessão do benefício ao doleiro, a alegar “motivo de foro íntimo” para declarar-se “suspeito” de atuar no caso. Os advogados de Youssef alegam que o acordo de delação faz parte da origem das investigações da Operação Lava-Jato e sustentam que Moro, por declarar-se suspeito, não poderia mais ter atuado em nenhum dos casos investigados pela operação contra o doleiro.

Assinado pelo advogado Antonio Figueiredo Basto, o pedido de Youssef requer a Teori Zavascki a libertação do doleiro em caráter liminar e a decretação da “nulidade absoluta” de todos os atos decisórios praticados por Sérgio Moro, “especialmente as quebras de sigilo telefônico e telemático, bem como as buscas e apreensões, devendo ser desentranhadas do processo todas as provas delas derivadas”. A reportagem procurou o juiz Sérgio Moro para comentar o caso, mas ele não foi localizado.

Em sua mais recente edição, VEJA mostrou nesta semana novas relações de Youssef com figuras poderosas da República. O escritório do doleiro, que funcionava numa área nobre na Zona Oeste de São Paulo, era quase uma extensão do Congresso Nacional. A base de operação do doleiro era ponto de peregrinação de políticos de partidos sabidamente envolvidos em tramoias financeiras.

As investigações já revelaram que empresas fantasma controladas por Youssef recebiam em suas contas inexplicáveis depósitos milionários de algumas das mais importantes empreiteiras do país. O dinheiro que entrava de um lado, por meio de contratos simulados de consultoria, saía por outro na forma de repasses a políticos e partidos. Os mesmos políticos e partidos que indicavam os apadrinhados que contratavam as empreiteiras pagadoras. É desse triângulo equilátero da corrupção que emergem os clientes mais vistosos do doleiro.

Imagens da recepção do prédio de Youssef mostram que o ex-petista André Vargas, o mensaleiro Pedro Corrêa e outros seis deputados do PP frequentavam o escritório do doleiro. Documentos apreendidos pela Polícia Federal no local também revelam que o senador Fernando Collor (PTB-AL) recebeu nas suas contas bancárias oito depósitos em dinheiro vivo que totalizam 50.000 reais.

O doleiro ainda não pronunciou uma única palavra sobre seus negócios escusos, muito menos sobre os parceiros influentes que o ajudaram a montar o império que movimentou bilhões de dólares no Brasil e no exterior. Mas, como se vê, na hora em que ele resolver falar, um pedaço do Congresso Nacional poderá ruir.