sábado, 28 de junho de 2014

Pais rico: Indústria perde por dia parado na Copa R$ 7 bi. Espanha, país pobre, novo rei tomou posse sem feriado


O Estado de São Paulo


Com interrupção do trabalho em dia de jogo e menos movimento nas ruas, indústria e comércio já calculam os prejuízos


Ainda que o Brasil saia campeão da Copa do Mundo, há quem possa preferir não comemorar. Por causa da realização do evento no País, indústria e comércio, já fragilizados pelo desaquecimento da economia doméstica, devem ter perdas ainda mais intensas por causa dos feriados decretados no período do Mundial.
Na indústria brasileira, cada dia útil parado representa em média R$ 7,27 bilhões a menos no valor bruto da produção, calcula a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Só no parque fabril paulista, o maior do País, a perda pode chegar a R$ 2,854 bilhões por dia útil a menos. Na esfera municipal, a capital (cerca de 18% da produção do Estado) perde aproximadamente R$ 515 milhões a cada dia de produção parada.
A Fiesp pondera, entretanto, que há chances de o saldo final distinguir dessas estimativas, já que alguns empresários podem ter se antecipado à paralisação realizando turnos extras. Além disso, alguns jogos ocorreram só após as 16h, o que prejudicaria apenas parte da produção média diária. "Mas o valor citado nos dá uma boa ideia dos prejuízos", diz em relatório.
No município do Rio de Janeiro, a Copa do Mundo deve tirar R$ 327 milhões da indústria local, calcula a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). São três dias de interrupção nos trabalhos apenas por conta do Mundial. A prefeitura decretou feriado parcial no dia 18 de junho e feriado integral nos dias 25 de junho e 4 de julho. A Firjan não acrescentou à conta as interrupções de jornada durante os jogos do Brasil.
A perda acumulada nos três feriados locais da Copa mais os dias de trabalho perdidos em feriados oficiais no ano podem fazer o prejuízo da indústria carioca chegar a R$ 1,76 bilhão, o equivalente a 5,4% do PIB industrial do município.
Na última quarta, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), informou que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) caiu 0,8 ponto porcentual na prévia de junho, para 83,5%, o menor patamar desde novembro de 2011. A redução se deveu à desaceleração da indústria nos últimos meses e aos estoques elevados, mas também à antecipação de férias em algumas empresas, aproveitando a Copa.
O comércio tampouco deve se beneficiar do evento de modo geral, diante de uma demanda doméstica fragilizada e pouco impulso vindo dos estrangeiros. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que cada dia útil perdido com um feriado significa em média 9% de lucro a menos no mês. O efeito varia conforme a localização do estabelecimento. No Rio e em São Paulo, a queda pode ser ainda maior, entre 10% e 11%.
"Para o varejista (do Rio), sacrificar 30% do lucro dói", diz o economista da CNC Fábio Bentes. Insistir em abrir as portas do negócio não é alternativa melhor, já que os custos com funcionários são dobrados.
Gringos. Nem a vinda de estrangeiros deve melhorar a situação. Com raras exceções, as vendas para turistas se concentram em suvenires, destaca o assessor econômico Fábio Pina, da Fecomercio-SP. Para eles, não compensa fazer compras no Brasil. "Os produtos aqui são mais caros que nos países dos turistas que nos visitam", diz. "Não há possibilidade de um evento como a Copa do Mundo reverter uma situação macroeconômica complicada."
O impacto positivo da Copa ficará concentrado em segmentos ligados a lazer e alimentação. As vendas de televisores devem movimentar R$ 863 milhões, segundo a CNC, ajudadas pelo barateamento do item, que custa em média 44,4% menos do que na última Copa. Nos supermercados, as vendas de carnes e bebidas frias devem puxar os resultados. "Para o comércio como um todo, o impacto não será positivo. Geralmente não é, e o fato de ser aqui agrava isso. As vendas são menores, já que a circulação cai dramaticamente em dias de jogo", diz Bentes./I.T., D.A., M.D. e M. B.