domingo, 18 de janeiro de 2015

Carlos Brickmann: Para a Petrobras, aparentemente, lugar de trabalhador é no olho da rua

Com Blog Ricardo Setti - Veja


 

(Foto: Getty Images)
Carlos Brickmann: “Ou a Petrobras sabe algo que ninguém mais sabe, ou perdeu o rumo” (Foto: Getty Images)
Notas de Carlos Brickmann publicadas neste domingo em diversos jornais
Lugar de trabalhador… 
Carlos BrickmannA Petrobras, além de descredenciar as empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato (sem esperar a formalidade de ver as culpas reconhecidas pela Justiça), decidiu afastar empresas brasileiras da concorrência para construir equipamentos navais.
Ou a Petrobras sabe algo que ninguém mais sabe, ou perdeu o rumo:
1 - uma empresa, mesmo tendo sido usada para cometer crimes, não vai para a cadeia. Se afastar os responsáveis pelos atos criminosos, substituindo-os por gestores idôneos, se repuser os prejuízos que causou, somados às respectivas multas e indenizações, pode continuar trabalhando.
O descredenciamento terá um efeito perverso: quem pagará pelos problemas que não criou será o empregado.
Sem serviço, a empresa demitirá em massa (e parece que várias já o estão fazendo). As 23 empreiteiras descredenciadas, mais outras empresas que vivem da prestação de serviços a elas, empregam algumas centenas de milhares de pessoas.
Uma delas, das grandes, tem cem mil funcionários. Quantos sobrarão?
2 - A contratação exclusiva de grupos estrangeiros para outros serviços, com o objetivo de moralizar os negócios, é indefensável. No cartel do Metrô e dos Trens, que vem sendo investigado, há uma ou outra empresa brasileira, mas a maioria no cartel é de empresas estrangeiras de grande porte. Há aquela empresa holandesa multada por corrupção em seu próprio país-sede, por exemplo. Há outras.
Corrupção não é característica exclusiva de grupos (e governos) brasileiros.
E as possibilidades de demissões são portentosas: segundo cálculos da Força Sindical, só essa medida tem potencial para desempregar 300 mil trabalhadores.
…é na rua
A questão, por si explosiva, não se limita à destruição de empresas nacionais, desemprego em massa e entrega do mercado nacional a estrangeiros, sem qualquer vantagem para o país. Envolve também questões financeiras de alta complexidade: se as empresas nacionais quebrarem, como pagar os créditos que captaram nos bancos? 
Até mesmo a cadeia de crédito e produção entra em risco.
…não morre pagão
O último ato de Guido Mantega no Ministério da Fazenda beneficiou um determinado setor da Economia. Adivinhe: qual? Errou: foi o bancário.
Mantega deu aos bancos um bom aumento, de até 135,6%, nos preços cobrados para arrecadar receitas da União e da Previdência.
Como? O caro leitor há muito tempo não tem aumentos de salários nesse montante? Quem manda não ser banqueiro?
(Foto: George Gianni/PSDB)
Presente de despedida: Mantega deu aos bancos um aumento nos preços cobrados da União e da Previdência (Foto: George Gianni/PSDB)
Até recentemente, cada documento pago por débito em conta-corrente rendia ao banco R$ 0,40; e, se a guia fosse quitada de outra forma, R$ 0,59. 
A partir do reajuste concedido por Guido Mantega, cada documento quitado, sem código de barros, passou a render ao banco R$ 1,39 – ou seja, mais 135,6%. Documento com código de barras teve reajuste mais modesto: só 86,5%.
Segundo a Federação dos Bancos, Febraban, o serviço de arrecadação de tributos federais movimenta algo como 126 milhões de documentos por ano.
Basta fazer o cálculo.