sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Graça Foster: Caiu a máscara

Isabel Clemente - Epoca

A executiva chegou ao topo da Petrobras com fama de eficiente. Mas deve deixá-la sob a pior crise de sua história – e como tragicômico mote de Carnaval


SOB FOGO Máscara de Graça Foster confeccionada a pedido de ÉPOCA. Sem poder brincar com Nestor Cerveró, foliões escolheram um novo mote para o Carnaval (Foto: Ilustração: Lovatto)


É uma situação tragicômica. Nunca antes na história da Petrobras um balanço havia sido divulgado nas sombras da noite – imagem que sintetiza o pior momento nos 61 anos da empresa. O resultado saiu depois de mais de dez horas de reunião de Graça com diretores e o Conselho de Administração. O objetivo era tentar explicar o inexplicável. Não conseguiram. Os resultados não foram auditados, nem embutiram as perdas provocadas pela corrupção nos últimos anos. Consultada, a presidente Dilma Rousseff teve um de seus habituais faniquitos. Não queria que o balanço fosse divulgado nos termos que Graça aprovara. Aos olhos de Graça e de grande parte do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma quer resolver uma séria crise na empresa sem enfrentar o fato de que há... uma séria crise na empresa.

Mesmo com tanta pressão, Graça aparentava calma e manteve o tom de voz tranquilo ao apresentar os resultados. Afirmou que “as circunstâncias” não permitiam avaliar com precisão o impacto da corrupção, e que contratou duas empresas para investigar, internamente, os descaminhos. Investidores de todos os tamanhos reagiram: o valor das ações da empresa despencou 11%. Quanto a Petrobras perdeu com o assalto sistemático a seus cofres – e a gestão incompetente de megaprojetos, como a Refinaria Abreu e Lima – é a pergunta que permanece sem resposta. E a ausência dessa resposta apavora os investidores. Após a divulgação do balanço, a Petrobras perdeu R$ 16,6 bilhões em valor de mercado na Bolsa. Está afundando.

As tentativas, até agora infrutíferas, de recuperar o valor de mercado e a respeitabilidade da empresa têm consumido fins de semana e feriados de Graça e da cúpula da companhia. O grupo procura resgatar do buraco as contas da estatal e também a reputação que Graça tinha quando assumiu o posto, há quase três anos.

Nomeada para um dos cargos mais cobiçados da República em fevereiro de 2012, Graça foi rapidamente alçada ao olimpo dos executivos mais influentes do planeta. Havia nela algo de Dilma Rousseff, que chegou à Presidência com fama de gestora eficiente. Sob o comando de Graça, estava o maior programa do mundo de investimento na extração de petróleo em águas profundas. A Petrobras tinha pela frente todo o pré-sal a explorar.

Depois de três anos, muitos escândalos e ao menos dois pedidos de demissão (rejeitados pela presidente Dilma), Graça não causa mais inveja em ninguém. Um executivo graduado do setor de petróleo, ouvido por ÉPOCA, resume assim sua situação: “Eu não aceitava esse trabalho nem por todo o dinheiro do mundo”.

Até agora, Graça não foi diretamente envolvida nos crimes descobertos pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (leia mais a respeito na página 32). A investigação levou para a cadeia três ex-diretores e um alto executivo da empresa. Os primeiros resultados da operação vieram a público em março de 2014. Mas, até outubro, Graça manteve a pose de quem não tinha nada a ver com aquilo. Palavras como propina e superfaturamento não saíam de sua boca, ao menos em público. De lá para cá, o discurso mudou. “Estamos trabalhando sistematicamente para ter a solução de uma equação que não é trivial, porque corrupção e fraude não passam pelos registros contábeis”, afirmou Graça. Tarde demais.

A Petrobras enfrenta uma batalha também nos Estados Unidos. Lá, seus administradores enfrentam ações coletivas de investidores. As ações serão reunidas num único processo, que, de maneira diferente do que acontece no Brasil, irá a júri popular. Há, ainda, a investigação criminal do Departamento de Justiça americano.

Graça tem pela frente uma causa difícil – evitar entrar para a história como a executiva que permitiu o afundamento da Petrobras.