sábado, 31 de janeiro de 2015

Tentativa de acordo entre governo e PMDB acirra disputa na Câmara

Andréia Sadi e Ranier Bragon - Folha de São Paulo



Na véspera da eleição que definirá neste domingo o novo presidente da Câmara, as campanhas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) trocaram acusações neste sábado (31) sobre um suposto acordo que estaria sendo costurado para por fim ao racha na base de sustentação do governo Dilma Rousseff.

Pela proposta, Cunha presidiria a Câmara em 2015 e 2016 e, nos dois anos seguintes, o posto seria de Chinaglia.

A campanha de Cunha afirmou que essa proposta partiu do governo. O governo diz o contrário: que a sugestão de acordo foi feita pelo PMDB. Em comum nas versões, apenas a afirmação de que não há possibilidade de acordo.

Segundo peemedebistas, na sexta-feira o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) procurou liados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para sugerir o rodízio do partido com o PT para comandar a Câmara. A informação foi confirmada à Folha por três parlamentares.

Sondado à noite por aliados, Cunha refutou a possibilidade. A amigos, ele disse que perderia a "credibilidade" se aceitasse o rodízio com o partido da presidente Dilma Rousseff. Durante a campanha, o peemedebista defendeu o fim da hegemonia do PT e PMDB no comando da Casa, em um aceno aos outros partidos da base aliada que almejam um dia ocupar a presidência.

Segundo um parlamentar, um documento chegou a ser apresentado por emissários do governo com pontos a serem negociados sobre a eleição. O principal item era o rodízio entre o PT e PMDB para os próximos quatro anos.

A assessoria de Pepe Vargas negou a história e contou versão oposta. Afirmou que o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), um dos coordenadores da campanha de Cunha, procurou o ministro na sexta-feira "pelo menos três vezes" com a proposta de rodízio.

Mabel negou com veemência. "O Planalto é que me chamou. Quando eles colocaram esse assunto, eu falei: 'Esquece'". 

Ele diz que outros ministros já haviam proposto o rodízio ao PMDB. Como a Folha revelou, Jaques Wagner sugeriu a negociação ao vice-presidente, Michel Temer, na última terça-feira.

Chinaglia também negou neste sábado qualquer possibilidade de acordo. "Essa é mais uma inócua tentativa de tergiversar", afirmou, dizendo ainda que desafiava o PMDB a dizer na sua frente a história do acordo, desde que ele fosse autorizado a falar o que "sabe sobre o PMDB".

Cunha reagiu: "Não propus, não recebi proposta. Se ele conhece algo sobre o PMDB ele que fale logo."

Aliado de Cunha, o ex-ministro do governo Lula Geddel Vieira Lima criticou a suposta sondagem do governo na véspera da eleição.

"O problema é que eles têm clara a derrota e tentam, na reta final, um pseudo acordo imaginando que todos são iguais", afirmou à Folha.

Ele também atacou a articulação política do governo, comandada por Vargas e Aloizio Mercadante (Casa Civil).

"O governo não tem credibilidade e tem na articulação política essa dupla que já virou folclore no Congresso, que é o pepe legal e Freddie mercury [ex-vocalista do Queen]".

Nesta semana, o ministro Jaques Wagner (Defesa) já havia procurado o vice-presidente, Michel Temer, para sugerir o rodízio entre PMDB e PT. Temer disse ao ministro que Cunha tinha intenção de exercer o mandato no biênio 2015-2017. As negociações, no entanto, não prosperaram.

O Planalto trabalha pela eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência e tem Cunha como desafeto. No entanto, ministros do governo temem a divisão da base aliada com a disputa pela presidência entre os partidos.

O modelo de rodízio foi adotado nos últimos quatro anos. No primeiro ano do governo Dilma, o PT assumiu o comando da Casa. De 2013 a 2015, a Casa foi presidida pelo PMDB. A ideia chegou a ser discutida no ano passado, mas foi descartada pelos peemedebistas.