sábado, 31 de janeiro de 2015

´"Triste alternativa", editorial da Folha de São Paulo

Pouco resta ao cidadão exceto acompanhar a primeira disputa política de relevo de 2015.

Numa votação secreta, os 513 deputados federais escolherão neste domingo (1º) entre um congressista comprometido com o poder dilmista –Arlindo Chinaglia (PT-SP)– e um parlamentar cujas inclinações para a oposição ou para o governismo se medem conforme as ofertas e as demandas do momento –Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Excluídas, ao que se noticia, as chances de que o terceiro candidato –Júlio Delgado (PSB-MG)– tenha maior peso no confronto, a alternativa Chinaglia-Cunha só confirma o estado de enfraquecimento institucional do Legislativo.

Evidência até certo ponto superficial, mas não menos eloquente, é o contraste entre o quanto a disputa mobiliza de recursos, artifícios e farândolas entre os deputados, de um lado, e o grau de indiferença e obscuridade de que se cerca na opinião pública, de outro.

Impressiona, e não num bom sentido, o profissionalismo de uma campanha que envolve a criação de comitês em hotéis de Brasília, a contratação de marqueteiros e a mobilização de jatinhos para viagens a redutos estaduais.

Todo um aparato que seria apropriado para conquistar os votos de milhões de eleitores se concentra sobre algumas centenas de deputados. De onde vem tanto dinheiro? Quem controla o caixa da quermesse? Quem o fiscaliza? As perguntas ficam sem resposta.

Não é apenas de propaganda que se faz, naturalmente, o esforço de persuasão. Cargos federais, estaduais e municipais, loteados entre peemedebistas e petistas estão entre as principais moedas de troca na disputa –se é que não estão em curso formas ainda mais literais e concretas de aquisição de votos.

A confirmar-se o favoritismo de Eduardo Cunha, são imprevisíveis os custos que a Câmara acrescentará aos projetos do Planalto.

Incluem-se, como alvo de eventual chantagem fisiológica, o programa de ajuste nas contas públicas, o aprofundamento das investigações de corrupção e um remoto, mas não negligenciável, abalo na continuidade de Dilma Rousseff (PT) na Presidência.

A hipótese contrária, envolvendo o que seria a esta altura uma surpreendente vitória petista, traria maiores condições de estabilidade ao governo Dilma.

Estabilidade provisória, contudo, num chamado presidencialismo de coalizão que se caracteriza pela fragilidade, pelo improviso, pela vacilação na tomada de rumos. Não é por acaso que, em meio aos entusiasmos internos, aos combates implacáveis e aos escandalosos dispêndios de campanha, seja tão fosco e pobre o espetáculo.