sábado, 28 de fevereiro de 2015

Receita Federal investiga doação da ditadura da Guiné Equatorial à Beija-Flor. Deve começar ouvindo Lula, chefe de todas as bandalheiras

Antônio Werneck - O Globo


Campeã do carnaval 2015, escola teria recebido R$ 10 milhões de governo de Obiang. Origem da verba ganhou várias versões



Teodorín, filho do ditador da Guiné Equatorial (ao centro), durante o desfile da Beija-Flor - Marcia Foletto / Agência O Globo (16/02/2015)


A Receita Federal do Rio anunciou, nesta sexta-feira, que abriu investigação para identificar a origem dos R$ 10 milhões que financiaram o desfile da Beija-Flor de Nilópolis, campeã do carnaval carioca. Como antecipou o jornalista Ricardo Noblat, a escola teria recebido patrocínio do ditador Teodoro Obiang — presidente da Guiné Equatorial que está há 35 anos no poder — para exaltar o país na Marquês de Sapucaí. Os técnicos da Receita já estão rastreando o repasse dos recursos, levando em conta duas informações contraditórias: a primeira, de que o dinheiro foi doado pelo ditador; e a segunda, de que o financiamento partiu, na verdade, de empreiteiras brasileiras investigadas na operação Lava-Jato, como chegou a ser informado por um dos carnavalescos da escola.

A doação de R$ 10 milhões para a Beija-Flor — o maior patrocínio já feito para uma escola de samba carioca — já estava sendo investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Rio. Em meio à polêmica, representantes da Guiné Equatorial e diretores da escola apresentaram várias versões para a origem do dinheiro. Uma delas dizia que os recursos teriam sido arrecadados por empresas africanas.

VICE-PRESIDENTE ASSISTIU A DESFILE

O vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como Teodorín, de 45 anos, filho do presidente, também é alvo de investigação do Procurador da República Orlando Monteiro da Cunha desde 2013. Teodorín esteve no Sambódromo com uma comitiva da Guiné Equatorial para assistir ao desfile da Beija-Flor.

Em procedimento criminal instaurado pelo MPF para apurar crime de lavagem de dinheiro por parte de Teodorín, foi possível identificar que o filho do ditador tem imóveis e veículos de luxo no Brasil. O trabalho da procuradoria do Rio é uma parceria com a Justiça francesa, que, desde 2011, investiga Teodorín por crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Segundo fontes da Receita Federal, aqui também estão sendo investigados supostos crimes de sonegação fiscal, evasão de divisa e lavagem de dinheiro.

— Como são investigações sensíveis e sigilosas, não podemos dar detalhes — disse um funcionário da Receita.

A líder do PSDB na Câmara Municipal, vereadora Teresa Bergher, disse estar colhendo assinaturas para entrar com pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a doação de recursos à escola de samba. Teresa vai também encaminhar representação ao procurador geral de Justiça, Marfan Vieira, para que o órgão atue em conjunto com a CPI nas investigações.

A partir dos documentos de confisco de bens de Teodorín na França e nos Estados Unidos, o procurador da República pode pedir o sequestro e o arresto dos carros e apartamentos do filho do ditador e até a prisão dele.

Foi a partir de um pedido de cooperação da França e dos Estados Unidos, solicitando o confisco de uma aeronave Gulfstream G-V de Teodorín — comprada, em 2006, por R$ 38 milhões, supostamente adquirida pela prática de corrupção na Guiné Equatorial —, que a investigação teve início no Brasil.