Vitória da Beija-Flor, porém, teve repercussão mundial; direção da escola e país africano negam o financiamento para o desfile
GENEBRA - A vitória da Beija-Flor no carnaval do Rio de Janeiro com um tema polêmico em homenagem à Guiné Equatorial repercutiu pelo mundo. Menos na imprensa do país africano. Jornais e meios de comunicação como a BBC, The Wall Street Journal e outros europeus indicaram como a escola de samba teria sido financiada pelo ditador Teodoro Obiang, algo negado pela direção da Beija-Flor epelo embaixador da Guiné.
Segundo a imprensa estrangeira, a escolha do enredo foi atacada por defensores de direitos humanos e criou uma saia-justa para a escola.
Na rede BBC, a manchete dava o tom: "Beija-Flor vence carnaval apesar de ligação com Obiang". Segundo a entidade, a Anistia Internacional atacou a decisão e pediu transparência no financiamento dos desfiles.
Mas, em Malabo, capital da Guiné, nenhuma referência foi feita sobre a vitória da Beija-Flor na imprensa estatal desta quinta-feira, 19. Na Asonga, agência oficial do governo e praticamente o único meio de comunicação do país, o leitor não encontra nenhuma referência ao fato de o carnaval do Rio ter homenageado o país.
Na televisão nacional, o programa da manhã falou do tempo, pediu uma oração a todos no país e trouxe outras reportagens como doenças. Mas nenhuma referência ao fato de o vice-presidente do país, Teodorin Obiang, ter visitado o Rio de Janeiro e se hospedado em um dos hotéis mais caros do Brasil, o Copacabana Palace, na zona sul da capital fluminense. Na Gaceta de Guine Ecuatorial, apenas uma reportagem sobre o Ebola.
Exílio. As únicas referências foram citadas em jornais da oposição e que precisam registrar seus sites fora da Guiné, como na Espanha. No Diario Rombe, reportagens mostram como a comitiva da Guiné viveu no luxo no Brasil, enquanto a população passa fome.
Com apenas 720 mil pessoas, o minúsculo país enriqueceu graças ao descobrimento de petróleo. O problema é que esse dinheiro jamais chegou à população. Mais de dois terços dos cidadãos vivem com uma renda de menos de US$ 1 por dia. Quase 90% das pessoas não têm acesso à internet e a expectativa de vida é de apenas 53 anos, o equivalente ao que existia na Europa há quase 200 anos.
O governo destina 0,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e 20% das crianças estão em um estado de desnutrição profundo.