sábado, 30 de maio de 2015

"Levy e o jogo de Mercadante: Ou cai ou racha", por Vitor Hugo Soares

Com Blog do Noblat - O Globo

Levy exibe os primeiros sinais de cansaço. Mas não parece, ainda, decidido a jogar a toalha. A exceção da presidente, ele vai peitando todo mundo, incluindo Mercadante

Não adiantam os panos quentes (embebidos em pura retórica) que a presidente Dilma Rousseff jogou, esta semana, durante a entrevista concedida na visita ao México. Tentava assim, com a iniciativa quase pueril, apagar o fogo do incêndio que cresce e se propaga nas relações entre dois pesos pesados do primeiro escalão, em seu segundo mandato: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Nem panos nem tapumes conseguem mais impedir o barulho que se propaga a partir do Palácio do Planalto, sob o olhar complacente e o comportamento dúbio da própria mandatária. Embate delicado (e perigoso) que, mesmo os dissimulados de carteirinha do governo petista, (a maior parte deles encastelada na Casa Civil), e seus amestrados aliados não conseguem mais disfarçar.
Jogo estratégico complicado e cheio de riscos, cada vez mais notórios e explícitos: nas reuniões palacianas mais “secretas” ; nas negociações tensas e complicadas no Congresso; nas discretas conversas de bastidores; nos virulentos posts nas redes sociais; nos desabafos de conversas informais com amigos mais próximos. À exemplo do ministro Levy, no encontro com colegas da PUC-RIO.
"Tem horas que dá vontade de largar isso", desabafou o comandante da economia (o registro é da revista Época) no auge de uma semana de puro estresse. Acompanhado de uma gripe inesperada e incômoda, que tirou de vez o fair-play de Levy, notoriamente um sujeito afável e bem humorado com os que o cercam. Nestes últimos dias – é voz comum nos bastidores - ele nem parece o mesmo.    
Inútil disfarçar, para tentar vender a falsa impressão de que tudo vai bem, a exemplo do que Dilma tentou, sem sucesso, no México.
De um lado, na Economia, o técnico destacado - e de reconhecido saber do setor financeiro privado - ocupado ao seu modo bem particular, em desativar a bomba deixada em seu colo. Com os recursos dos receituários de crises e medidas amargas, ao seu alcance, tenta enfrentar a crise sem tamanho, montada em 12 anos de desvarios megalômanos e malfeitos de todo tamanho, no País comandado pelo PT.
Do lado oposto, uma raposa política dos novos tempos no Brasil. Formada e trabalhada nas manhas da escola sindicalista do ABC paulista, ao lado do ex-presidente Lula. Mercadante, agora aparentemente rompido com o mentor, praticamente não pensa ou faz outra coisa, além de montar estratégias de olho na eleição para sucessão, da atual mandataria do Palácio do Planalto, em 2018.
Desmontar biografias de prováveis adversários futuros e montar acordos e novas alianças, de olhos fixos na manutenção do poder em mãos petistas, eis o que importa. Na Casa Civil da Presidência da República, fonte de grandes trapalhadas e escândalos dos governos do PT, desde que o samba é samba é assim.
Mercadante não foge à pisada, muito ao contrário. Quem lida hoje com ele, ou já lidou no passado, sabe: A mesma ou maior sede de poder de Dirceu (apanhado nas malhas do Mensalão), Dilma e Gleise. Políticas públicas, enfrentamento sério e planejado da crise, com foco no futuro do País? Tudo isso pode esperar na Casa Civil. Fica para depois.
Um exemplo do passado recente, para reflexão no presente: Em julho de 2007, quando do acidente com o avião da TAM, que caiu perto do aeroporto de Congonhas, Dilma era chefe da Casa Civil, Erenice, a sua secretária executiva, e Denise Abreu, diretora da ANAC. Em época de caos aéreo, logo trataram de arrumar um culpado. O já combalido, à época, ministro da Defesa, Waldir Pires. 
Foi promovida então uma reunião com a presença de representantes de todo o governo Lula. A então ministra Dilma, em dia de ferocidade extrema e toques particulares de arrogância e desprezo, apontava o dedo em riste para o ministro Waldir, sem deixá-lo falar. Anunciou a construção, "para amanhã”, de um novo aeroporto na cidade de São Paulo, para resolver a crise momentânea. Até hoje, nada!
Levy é um homem da economia, respeitado internacionalmente neste campo de atuação. É um “Chicago Boy”, como seus colegas e amigos mais próximos o denominam. Acostumado com a autonomia que detinha no setor privado. Trabalha em média 16 horas por dia (revelam pessoas próximas à rotina de seu gabinete), ao lado da equipe que ele levou para o MF. E ainda precisa dedicar tempo precioso a desgastantes negociações políticas no Congresso. Ou com enraivecidos líderes do MST, que recentemente decidiram ocupar o seu gabinete. 
O pior para Levy, no entanto, é que por mais que tente mostrar a caótica situação econômica que o país atravessa, não encontra apoio da Casa Civil, que sempre quer incluir mais e mais despesas e não aceita, muito menos apoia, os cortes sugeridos pelo ministro. Dilma, sem saber direito o que quer e para onde vai, deixa o pau quebrar.
Levy exibe os primeiros sinais de enfado e cansaço. Mas não parece, ainda, decidido a jogar a toalha. A exceção da presidente, ele vai peitando todo mundo, incluindo Mercadante e sua turma, na Casa Civil, apesar do desgaste que, ele sabe, isso representa. Onde o jogo vai parar? Responda quem souber.