terça-feira, 29 de setembro de 2015

Desemprego no país tem a sétima alta seguida e vai a 8,6%. Número de desocupados cresceu 26% em um ano

Daiane Costa - O Globo






Mulher observa ofertas de emprego no Centro de São Paulo - Patricia Monteiro / Bloomberg News/3-8-2015

A taxa de desemprego no país ficou em 8,6% no trimestre encerrado em julho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, que apresenta dados referentes a todos os estados brasileiros. É a maior taxa da série histórica iniciada em 2012 e a sétima alta seguida. No mesmo período do ano anterior a taxa ficou em 6,9%, enquanto no trimestre encerrado em abril de 2015, que serve de base de comparação, ficou em 8%.

— Como houve aumento expressivo da desocupação, não tinha como a taxa de desemprego não atingir esse percentual elevado — explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE.

O rendimento médio recebido em todos os trabalhos (R$ 1.881) ficou estável frente ao período de fevereiro a abril (R$ 1.897). Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado (R$ 1.844), houve alta foi de 2%. A massa de rendimento real habitualmente recebida em todos os trabalhos para o trimestre encerrado em julho (R$ 167,8 bilhões) também não apresentou variação estatisticamente significativa frente ao trimestre encerrado em abril. Em relação maio-julho de 2014, houve alta de 2,3% (R$ 164,1 bilhões).


Nos três meses encerrados em julho, o país tinha 8,6 milhões de pessoas desocupadas. 

De fevereiro a abril, esse total era de 8 milhões, ou seja, houve alta de 7,4% ou mais 593 mil pessoas nesse contingente. Já na comparação com o período de maio a julho do ano passado, a alta no número de desocupados foi de 26,6% ou 1,8 milhão de pessoas.

Já o número de pessoas ocupadas foi de 92,2 milhões, sem variação significativa em relação ao trimestre de fevereiro a abril deste ano. Na comparação com o mesmo trimestre de 2014, o dado também ficou estável. O nível de ocupação — indicador que mede a parcela da população ocupada em relação à população em idade de trabalhar — ficou em 56,1%, menor do que os 56,3% registrados no trimestre encerrado em abril deste ano e do que os 56,8% de maio a julho de 2014.

A força de trabalho — que considera quem está trabalhando e quem está em busca de uma vaga — foi estimada em 100,807 milhões entre maio e julho, crescendo 0,6% com relação ao período de fevereiro a abril de 2015, (100,207 milhões). E foi 2,1% maior do que a força de trabalho registrada de maio a julho de 2014, quando ficou em 98,742 milhões.

DIMINUI O NÚMERO DE TRABALHADORES COM CARTEIRA

O total de empregados no setor privado com carteira assinada caiu 0,9%, o que representa menos 337 mil pessoas, frente ao período de fevereiro a abril de 2015. Na comparação com maio a julho de 2014, a redução foi mais acentuada, de 2,5% ou 927 mil pessoas. Já o número de empregadores e trabalhadores por conta própria cresceu 8,1% e 4,2%, respectivamente, frente ao trimestre de maio a julho de 2014.

A perda de quase um milhão de empregos com carteira de trabalho assinada — que garante direitos trabalhistas — na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, num mercado que não contrata, tem levado à busca de renda no mercado informal, como indica o número de pessoas trabalhando por conta própria, que ganhou 883 mil pessoas na mesma comparação. E, essas pessoas que perderam o trabalho acabam levando parentes a buscar emprego, fazendo pressão no mercado e aumentando a população desocupada, que entre maio e julho ficou em 8,6 milhões, alta de 26,6% na comparação com o mesmo trimestre de 2014.

A perda da carteira de trabalho, segundo Azeredo, leva à perda da estabilidade:

— A desocupação está aumentando em razão da busca pela estabilidade. Você tem queda no número de trabalhadores com carteira assinada. E quando esse trabalhador perde o emprego com carteira, além de ele tentar se reinserir no mercado na informalidade, ele leva mais pessoas do eixo familiar para o mercado, em busca de emprego, fazendo pressão.

Os rendimentos dos trabalhadores do setor privado com e sem carteira assinada não variaram na comparação com o período fevereiro-abril deste ano. Também não houve variação para os que trabalharam por conta própria e os empregadores. Por outra parte, o rendimento dos trabalhadores domésticos e dos empregados no setor público (entre eles estatutários e militares) caiu 1,6% e 1,8%, respectivamente. Só os empregados no setor privado com carteira assinada registraram alta em seus rendimentos, de 2,9%, na comparação com maio a julho de 2014.

O desemprego de 8,6% ficou praticamente em linha com a expectativa dos analistas, que era de uma taxa de 8,5%. De acordo com o economista-chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, espera-se que o mercado de trabalho se deteriore ainda mais. O endurecimento da política monetária, a fraqueza da confiança do consumidor e do empresariado e condições financeiras mais difíceis devem levar a um aumento da taxa de desemprego em 2015 e a uma moderação no crescimento do rendimento real. O lado positivo, segundo Ramos, é que a fraqueza do trabalho pode ajudar a puxar a curva da inflação de serviços para baixo.

PME E PNAD ABRANGEM ÁREAS DIFERENTES

Pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME), a taxa de desocupação subiu para 7,6% em agosto. O resultado foi o pior para o mês desde 2009, quando ficou em 8,1%. No acumulado de janeiro a agosto, a taxa média de desocupação, de 6,6%, foi a maior desde 2010, quando ficou em 7,2%.

A PME engloba seis regiões metropolitanas do país (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre). Já os dados da Pnad Contínua são calculados mensalmente com informações coletadas no trimestre encerrado no mês de referência, para todos os estados brasileiros. Para as informações de julho, são considerados os dados de maio, junho e julho.