quarta-feira, 30 de setembro de 2015

"Energia de papel", editorial da Folha de São Paulo

Fica em consulta pública até 7 de outubro o novo Plano Decenal de Expansão de Energia, ou PDE 2024, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério das Minas e Energia. É pouco tempo para que o texto seja aperfeiçoado como poderia.

O maior problema do PDE 2024 está numa mentalidade pró-petróleo, em descompasso com estes tempos de Lava Jato e recessão. Isso para nada dizer da falta de sintonia com a questão da mudança climática global.

Verdade que o documento traça um panorama favorável para as energias renováveis, aquelas que não contribuem para agravar o efeito estufa –como a de biomassa (bagaço de cana), a eólica e a solar. Pelas projeções apresentadas, elas alcançariam 45% da matriz energética em 2024.

Sem dúvida, seria um bom resultado diante da presente média mundial, de 13,5%. Mas o percentual brasileiro caminhou em sentido oposto de 2012 para 2013, caindo de 42,3% para 41% com a ampliação da frota de veículos e da dependência de usinas termelétricas.

O avanço dependerá da aceleração do uso das fontes limpas de eletricidade, eólica e solar à frente. A EPE estima que a primeira terá crescimento de 378% na capacidade instalada e passará de 3,7% para 11,5% da matriz elétrica. Para a segunda, hoje insignificante, projeta-se expansão de 570%.

Nada mau para o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), que, ainda ministra de Minas e Energia, desdenhava das fontes alternativas. Esse passo na direção de uma matriz energética moderna e limpa, entretanto, dependeria de muito dinheiro, e os cenários da EPE deixam evidente que a prioridade ainda é o petróleo.

Calcula-se que o investimento necessário para dar conta da demanda energética seria de R$ 141 bilhões por ano. A maior fatia, 70%, iria para a expansão do setor de óleo e gás.

Em comunicado que ecoa o ufanismo pós-descoberta do pré-sal, prediz-se que "o Brasil passará a ser um importante 'player' nos mercados internacionais de petróleo". Para tanto, dobraria a produção, numa década, para 5,1 milhões de barris por dia.

Ora, para chegar lá, fala-se em 51 novas plataformas, quando plano de negócios da Petrobras registra meras 22. Ainda que se considerem outras empresas, o número soa exagerado. Resta uma semana para um choque de realidade.