sábado, 19 de dezembro de 2015

‘A mudança aumenta a dose de incerteza na economia’ .

Marcello Corrêa - O Globo


Para Margarida Gutierrez, da Coppead/UFRJ, aumentar gastos aprofundaria a crise



Margarida Gutierrez - Divulgação

Segundo a professora Margarida Gutierrez, da Coppead/UFRJ, especialista em contas públicas, perfil do ministro sugere que novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, pode afrouxar o ajuste fiscal.

O que espera da gestão de Barbosa?
Não sei o que o Barbosa vai fazer. Todo mundo sabe que foi ele quem implementou aquela nova matriz macroeconômica (medidas expansionistas, que aumentaram os gastos do governo), que foi um fiasco. Acho que a gente não pode cair na tentação de fazer soluções milagrosas. Temos um limite de dívida pública que precisamos respeitar. A mudança aumenta a dose de incerteza na economia. O Barbosa teve a ideia de enviar para o Executivo o Orçamento com déficit primário para 2016, o que foi decisivo para a agência Standard & Poor’s tirar o grau de investimento do país.

Qual deve ser sua prioridade?
Independentemente do novo ministro, o país tem que tomar consciência de que não dá mais para recorrer a soluções milagrosas. Nosso calcanhar de Aquiles é a política fiscal. Não só o tamanho, como a perspectiva da dívida. A projeção é de aumentar, aumentar, aumentar. Isso mata não o mercado financeiro, mas as empresas, que pagam cada vez mais caro para captar recursos no exterior, com um prêmio de risco enorme. Isso está matando o emprego no país, está matando o pobre.

O que pode ocorrer, caso a equipe econômica adote perfil mais desenvolvimentista?
Com a nossa dívida pública estourando do jeito que está estourando, como o Estado vai continuar se endividado mais? Aumentar gasto faz sentido quando você tem um nível de dívida que te permita fazer isso. Ninguém desconhece que a política fiscal é um movimento anticíclico. Todos os economistas sabem que a política fiscal é um instrumento de administração da demanda agregada. Ela serve para aumentar o crescimento quando está desacelerando. Mas ela também tem que ser usada para, quando a economia está desacelerando, saber que é hora de o governo reduzir seu gasto, para poder gastar mais no momento seguinte.

Uma política fiscal menos austera pode beneficiar a economia?
Depende do tipo de gasto que o governo vai fazer. Vamos dizer que o governo aumente gastos em obras públicas, por exemplo. Pode gerar um efeito de crescimento naquele projeto especificamente, naquela cidade. Mas, por outro lado, como isso significa aumentar déficit e dívida pública, todos os efeitos negativos são muitíssimos maiores do que aquele pequeno gás na economia. O efeitos negativo dessa ação é que o déficit público vai aumentar, o prêmio de risco vai aumentar. Isso significa taxa de câmbio maior, inflação maior e um PIB menor. Isso tudo é paralisante.