Bao Dandan - 2.abr.2015/Xinhua | |
Presidente do Fed, o banco central dos Estados Unidos, Janet Yellen |
GIULIANA VALLONE - Folha de São Paulo
Se as projeções de economistas e mercados ao redor do mundo estiverem corretas, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) realizará nesta quarta (16) a primeira elevação dos juros americanos em quase uma década.
Mas o que é chamado por parte do universo financeiro de "o acontecimento econômico da década" pode não causar tantos estragos no cenário brasileiro como se temia. É o que dizem economistas ouvidos pela Folha.
De acordo com eles, considerando os problemas internos enfrentados hoje pelo país, ficam em segundo plano os efeitos negativos de uma possível elevação de juros nos Estados Unidos —hoje entre zero e 0,25%, eles devem ter um aumento de 0,25 ponto percentual.
"Para o Brasil, as questões domésticas são muito mais relevantes do que a trajetória da taxa de juros a ser adotada pelo Fed", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
"[O aumento] é favorável para o Brasil? Não seria a resposta mais razoável", afirma Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse.
"Agora, quão desfavorável? Nessa primeira parte do ciclo de alta, não nos parece que seja muito desfavorável, apenas ligeiramente."
REFLEXOS
Entre as questões internas mais relevantes para o cenário brasileiro atualmente, de acordo com os analistas, está a possibilidade de rebaixamento da classificação de risco do Brasil pelas agências Moody's ou Fitch —que já sinalizaram que podem adotar essa medida em breve.
O país já perdeu o grau de investimento da Standard & Poor's em setembro e a retirada do selo de bom pagador por mais uma instituição deve gerar fuga de investimentos do mercado brasileiro.
Um processo de impeachment lento, que prejudique ainda mais a execução de medidas que ajudem a tirar o país do quadro recessivo, também é citado. "Não há dúvida de que um aumento de juros importa menos que o rebaixamento ou o impeachment", diz Teixeira.
Para Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset Management, os juros norte-americanos e a situação econômica da Europa e da China não influenciam negativamente no cenário interno.
"Rebaixamento, impeachment e essa briga doméstica pelo poder entre PT e PMDB, sim", afirma.
SAÍDA DE RECURSOS
Na teoria, juros mais altos na economia norte-americana aumentam os custos de financiamento e reduzem a liquidez da economia mundial.
Considerado o mais seguro do mundo, o mercado norte-americano fica mais atraente para os investidores, que decidem redirecionar suas aplicações, hoje investidas em outros países.
Os principais perdedores são os países emergentes, como o Brasil, que podem ver suas moedas se desvalorizarem em relação ao dólar dada a saída de recursos dos mercados financeiros.
As consequências da alta já foram precificadas pelos investidores, dizem os analistas. "Já se sabe há muito tempo que o Fed vai subir os juros", diz José Mauro Delella, estrategista do private banking do Santander. "Como se imagina hoje, a alta não é significativamente prejudicial para os emergentes", afirma.
Todas as primeiras moedas emergentes perderam força ante o dólar neste ano —nenhuma mais do que o real, que recuou 31% em relação à divisa americana, sob efeito dos problemas internos da economia brasileira.
O risco, diz Delella, está na possibilidade de um aumento pelo BC dos EUA em ritmo mais acelerado que o previsto. "O mercado espera, em sua maioria, três aumentos em 2016. Se houver quatro, a tendência será de alta do dólar", afirma Stuhlberger.