quarta-feira, 30 de março de 2016

Clima de tensão no Senado faz Renan encerrar sessão durante votação

Débora Álvares - Folha de São Paulo


O clima de tensão no plenário do Senado no início da noite desta quarta-feira (30) levou o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), a suspender e, em seguida, encerrar a sessão antes do previsto, no meio da votação de uma medida provisória. O senador é conhecido por seu temperamento calmo e sua forma tranquila de conduzir os trabalhos.

As votações tiveram início após uma tarde de intensos discursos, como tem sido costume, contrários e favoráveis à presidente Dilma Rousseff e ao processo de impeachment contra ela. O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), voltou a atacar o vice-presidente, Michel Temer, após a decisão do PMDB, confirmada em reunião nesta terça (29), de romper com o Planalto.

O debate esquentou com a votação da MP 709/ 2015 que, corta verbas do fundo de arrendamento residencial, que abasteceria o programa Minha Casa, Minha Vida. O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), chamou a medida de "mais uma pedalada" do governo.

"Estou argumentando e dizendo que é um contrassenso tomar dinheiro do fundo garantidor, do FGTS, a fundo perdido, para fazer o programa [Minha Casa, Minha Vida] e, na medida nº 709, o governo cancela a verba que seria para o fundo. É uma incoerência enorme, não tem como explicar!"

A controvérsia à qual o senador se refere está na proposta que os senadores avalizaram anteriormente, sem discussões, a MP 698, que amplia o crédito para o programa por meio do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
Caiado foi interrompido por diversas vezes por petistas. Foi com a intervenção de Lindbergh Farias (RJ), que acusou o senador por Goiás de "elitismo", que o clima começou a esquentar.

"Com todo o respeito que eu tenho ao senador e ao DEM, eu conheço as posições do DEM, mas isso aqui é um elitismo exacerbado", afirmou o petista, ao que Caiado rebateu: "As pessoas mais humildes do país hoje estão sofrendo como nunca sofreram na vida. Foram enganadas e iludidas por um período e, agora, nos últimos momentos do governo, a presidente transforma o Palácio do Planalto em comitê eleitoral de campanha contra o impeachment".

Caiado afirmou ainda que a manifestação convocada pelo PT para esta quinta (31), na Esplanada dos Ministérios, está sendo paga e que cada "cidadão está recebendo um bônus de R$ 100 mais o transporte de graça para chegar".

Lindbergh respondeu, aos gritos, que a afirmação é mentira. E repetiu: "Pare de falar mentira, senador!", intercalado sempre pelo democrata, que continuava perguntando "de onde veio esse dinheiro?". Em meio ao bate-boca, a campainha, acionada pelo presidente, na mesa do plenário, foi acionada diversas vezes, numa forma de chamar a atenção dos presentes para o decoro.

Gleisi Hoffmann (PT-RS), que já havia tentado interromper Caiado no início, voltou a se intrometer. "O senador agarra o microfone e não solta. Acho que ele tem que ter um pouco de respeito".

O senador do DEM continuou, seu discurso, passando a falar sobre impeachment. "A pauta é sobre o impeachment? A pauta do debate agora?", questionou Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

Caiado não interrompeu seu discurso contra o governo, mas dessa vez quem tentou interrompê-lo foi Humberto Costa que questiona: "Quem pagou aquelas notas da Fiesp? Quem pagou champanhe, file mignon para quem estava naquela manifestação? O senador está querendo é atrapalhar a votação da medida provisória!"

"Pare de falar bobagem", disse Linbergh. "Não respeita o regimento", completou Gleisi.

Como Caiado não interrompeu sua fala, apesar de já ter ultrapassado seu tempo regimental de discurso e de ter tido o microfone cortado diversas vezes, Renan suspendeu a sessão. O senador continuou a falar, mesmo sem o áudio do microfone.

Menos de um minuto depois, o presidente do Senado retornou à Mesa, abriu novamente os trabalhos, avisou que voltaria a suspender ou até encerrar a sessão, como acabou fazendo, se não fosse respeitada a palavra de cada senador.

Depois disso, a palavra foi passada a Romero Jucá, que rebateu uma afirmação feita mais cedo por Lindbergh, na qual ele mencionou uma entrevista do ex-ministro Moreira Franco. "Quero dizer que a bancada do PMDB, nós vamos debater o que for necessário debater. Agora, não vamos nos calar. Tive a informação de que o senador Lindbergh disse que o PMDB está cortando R$ 30 bilhões do Bolsa Família. Isso não é verdade! Agora, quero dizer que estarei à disposição..."

Quando o senador petista começou a responder, afirmando ter mencionado uma entrevista do colega de partido de Jucá, Renan encerrou os trabalhos, como havia prometido.

Desligados os microfones, não houve bate-bocas acalorados. Os senadores conversaram e chegaram a trocar sorrisos entre si. Cada um deles, contudo, saiu por um lado do plenário.