sábado, 28 de maio de 2016

Sanders exalta frente em pesquisas, mas tropeça em escrutínio

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER - Folha de São Paulo


"Bernie Sanders tem mais chances de vencer Donald Trump do que Hillary Clinton." Com o mantra, o senador quer convencer o Partido Democrata de que é a melhor aposta para a Casa Branca.

Para isso, cita pesquisas em que supera o republicano com folga que falta à ex-chanceler. A do "Wall Street Journal"/NBC lhe dá 15 pontos sobre Trump. Hillary tem três. Especialistas, contudo, dizem que a margem despencaria se ele fosse visto como ameaça real pelo partido rival.

Hillary tem 2.310 dos 2.382 delegados necessários para ser a candidata democrata, contra 1.542 para ele (restam 781 no páreo, além de 149 superdelegados, que votam sem seguir as prévias estaduais). Se por milagre virasse unanimidade e revertesse esse quadro, estrearia numa posição na qual a rival está calejada: saco de pancadas de Trump.

Damian Dovarganes/Associated Press
O pré-candidato democrata Bernie Sanders durante evento de campanha em Los Angeles
O pré-candidato democrata Bernie Sanders durante evento de campanha em Los Angeles

"Ainda não quero ser tão duro com o 'Bernie Louco' porque adoro ver o que ele faz com a 'Hillary Trapaceira'", disse o magnata, que já assegurou a candidatura republicana, segundo sondagem.

Por pouco Trump não topou um debate entre "rapazes", após Hillary recusar o confronto com Sanders. Recuou por lhe "parecer impróprio debater com o segundo".

Se virasse alvo republicano, Sanders teria de explicar a credencial de "socialista", bem-vista por só 35% da população, segundo o Gallup. E seria alvo de "propaganda sobre como quer aumentar impostos", diz o analista do Real Clear Politics Sean Trende.

Sanders só tem uma brecha para superar Hillary na convenção que unge o candidato, em julho: atrair a maioria dos 541 superdelegados comprometidos com a rival (por ora, ele tem 43 dos 584 que declararam voto). O grupo pode recuar, mas o vínculo com a cúpula partidária torna isso improvável.

A campanha de Sanders torce por uma notícia pior, para Hillary, do que o relatório que a critica por usar seu e-mail pessoal para tratar do Departamento de Estado.

Ela é cautelosa, temendo alienar seus simpatizantes. "Há uma boa fatia pró-Sanders disposta a votar em Trump", disse à Folha John Aldrich, da Universidade Duke. Segundo pesquisas, 20% dos eleitores do senador migrariam para o republicano (em março, eram 9%).

Mas a tendência é conciliação. Em 2008, o articulista Earl Hutchinson previu que a rixa entre Barack Obama e Hillary levaria John McCain à Casa Branca. Errou.