quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cachoeira e ex-diretor da Delta são presos e seguem para o Rio


Vinicius Sassine - O Globo




Polícia Federal chega ao condomínio Cruzeiro do Sul, em Goiânia, onde mora o bicheiro Carlinhos Cachoeira - Jorge William / O Globo


A Polícia Federal já deixou o condomínio de luxo Alphaville Cruzeiro do Sul e seguiu direto para o Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia. Nos dois carros, os policiais levam o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o ex-diretor da Delta Construções Cláudio Abreu. Os mandados de prisão foram cumpridos em menos de uma hora. O voo dos dois ao Rio está previsto para as 8 horas. Segundo os policiais federais, eles irão ao Rio em voo comercial.

O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) deflagraram na manhã desta quinta-feira uma operação para cumprir cinco mandados de prisão em São Paulo, Rio e Goiás. Entre os alvos, além de Cachoeira e Abreu, estão o ex-presidente da empreiteira Delta Construções Fernando Cavendish e o empresário Adir Assad, que já foi condenado na Operação Lava-Jato. No Rio, a polícia não encontrou Cavendish, que já é considerado foragido pelas autoridades.

Logo cedo, um carro da PF e quatro policiais entraram no condomínio para o cumprimento dos mandados judiciais. O complexo de condomínios é o mesmo onde Cachoeira morava quando foi preso em 29 de fevereiro de 2012, na Operação Monte Carlo.
Na ocasião da primeira operação, porém, o bicheiro morava numa casa no Alphaville Ipês, no mesmo imóvel que pertenceu ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O Cruzeiro do Sul é vizinho ao Ipês.

MONTE CARLO

A Monte Carlo, em 2012, prendeu Cachoeira e mais 34 pessoas suspeitas de envolvimento num esquema criminoso de exploração da jogatina mediante corrupção de forças policiais e de integrantes dos governos de Goiás e do Distrito Federal. A evolução das investigações demonstrou uma atuação que ia muito além da exploração ilegal de jogos de azar. O bicheiro atuava para a Delta Construções, conforme as investigações, em contratos com diferentes governos.

A operação policial evoluiu para um robusto escândalo político em 2012, principalmente por conta da relação entre o bicheiro e o então líder central da oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Demóstenes colocou o mandato a serviço de Cachoeira e foi cassado pelo Senado.

O Congresso instalou a CPI do Cachoeira naquele ano. As relações do bicheiro se estendiam a 13 parlamentares, entre eles o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que relatou em abril o impeachment de Dilma na Câmara. Depois de oito meses de trabalho, a CPI do Cachoeira terminou sem sugerir o indiciamento de nenhum dos investigados.

O governador de Goiás passou a ser investigado num inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por conta da suposta proximidade ao bicheiro. A venda da casa onde Perillo morou entre 2007 e 2010, o mesmo imóvel onde Cachoeira foi preso em 2012, foi intermediada por pessoas próximas ao bicheiro.

Cachoeira ficou nove meses preso por conta da Monte Carlo. Deixou o Presídio da Papuda em Brasília em novembro de 2012. No mês seguinte, a Justiça Federal em Goiás condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de prisão por formação de quadrilha, corrupção ativa, violação de dados sigilosos, advocacia administrativa e peculato.

Ele voltou a ser preso preventivamente, mas desta vez a prisão durou apenas quatro dias. O bicheiro foi solto em 11 de dezembro de 2012 e está em liberdade desde então. O empresário recorre da sentença na segunda instância da Justiça.

Cachoeira foi um dos protagonistas do primeiro escândalo de corrupção do primeiro governo Lula. Waldomiro Diniz, então subchefe de gabinete da Casa Civil comandada por José Dirceu, apareceu numa gravação cobrando propina do bicheiro quando era presidente da Loterj. O caso veio à tona em 2004 e precedeu o mensalão.