sábado, 30 de julho de 2016

Delator diz ter pagado propina para o PT no Rio

Sereno integrou comando da refinaria da Manguinhos,
Sereno integrou comando da refinaria da Manguinhos, Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob/15-10-2012
Thiago Herdy - O Globo

Ex-assessor de José Dirceu e um dos mais discretos integrantes do PT carioca, o economista Marcelo Sereno é o novo alvo de investigação da Lava-Jato. O representante do estaleiro Keppel Fels no Brasil e fornecedor da Petrobras, Zwi Skornicki, disse em acordo de colaboração premiada ter realizado pagamento de propina direcionada ao PT por meio da empresa Zaama Planejamento e Gestão Empresarial, firma que pertence à mulher de Sereno, Cátia Bertoti, e à sua cunhada, Maria Lorien Bertoti.

De acordo com Skornicki, os pagamentos foram solicitados pelo ex-tesoureiro petista João Vaccari e incluídos na “conta corrente" que ele mantinha com o partido para pagar propina correspondente a 0,5% dos contratos de construção das plataformas da Petrobras P-56 e P-58. A Zaama está registrada na Junta Comercial do Rio como microempresa fundada em 2006 e com endereço de funcionamento em duas salas de um prédio da Rua do Ouvidor, no Centro da capital.

Quando realizou buscas na casa de Skornicki na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, em fevereiro de 2015, a Polícia Federal apreendeu uma cópia da primeira alteração do contrato social da Zaama, com data de setembro de 2011. Na mesma ocasião, a PF encontrou cópia de contrato de Zwi com a empresa Shellbill, offshore com conta na Suíça usada pelo casal João Santana e Mônica Moura para receber US$ 4,5 milhões de propina de contratos da Petrobras.

Em depoimento ao juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba, Sérgio Moro, na última semana, Skornicki disse que a Zaama cumpriu papel semelhante ao da Shellbill, isto é, foi usada para celebrar um contrato fictício com intuito de “lavar” propina endereçada ao PT. O engenheiro afirmou ter pagado pessoas indicadas por Vaccari “no exterior e no Brasil”.

No exterior, disse ter realizado pagamentos para Claudio Mente (investigado como intermediário de propina na Petrobras) e para o casal Santana.

— No Brasil, o sr. fazia pagamento? — perguntou Moro.

— Fazia pagamento a terceiros, entre uma delas uma empresa chamada Zaama. Isso tudo era autorizado pelo sr. João Vaccari — respondeu Skornicki.

VALORES SOB SIGILO

No depoimento, o engenheiro disse também ter realizado pagamentos a dois políticos, mas não mencionou os nomes por intervenção de Moro, porque os dois têm foro privilegiado. Os repasses são investigados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Skornicki assinou acordo de colaboração, mas o valor dos pagamentos aos familiares de Marcelo Sereno é mantido em sigilo. Sócias na Zaama, Cátia e Márcia aparecem em fotos da campanha de Sereno à Câmara dos Deputados, em 2010. Márcia já exerceu cargo de secretária parlamentar de Edson Santos (PT) e também na prefeitura de Maricá (RJ).

Em 2003, Sereno era assessor especial da Casa Civil e responsável por encaminhar nomeações para o segundo e terceiro escalões do governo Lula, segundo despachos obtidos pelo GLOBO em 2013 com base na Lei de Acesso à Informação. Ele foi citado em 2005 pelo ex-presidente do PTB Roberto Jefferson como um dos negociadores da dívida de R$ 20 milhões do PT com o partido, que resultou na denúncia do mensalão. No entanto, na época, ele não foi processado. Em 2008, ele passou pelo comando da Refinaria de Manguinhos, ocasião em que também foi investigado por suspeita de irregularidades.

O advogado das irmãs Cátia e Márcia Bertoti, Renato Tonini, confirmou ao GLOBO que uma empresa de Skornicki, a Eagle, assinou contrato com a Zaama, mas negou que se trate de propina direcionada a Marcelo Sereno ou ao PT. Por e-mail, afirmou que a Eagle “contratou e pagou os serviços prestados”. O defensor sustentou que a Zaama é especialista na “implementação de políticas e projetos de responsabilidade sócio-ambiental" e “treinamento” na área. Ele não quis informar o valor do contrato nem a data dos pagamentos, alegando “cláusula de confidencialidade do contrato”. Marcelo Sereno não quis comentar o caso.