segunda-feira, 29 de agosto de 2016

"Desconfortável", Collor rejeita vingança: "a história me trouxe para este momento"

Com Jovem Pan



fonte: Pedro França/Agência Senado
Fernando Collor está em lado oposto do processo de impeachment
Fernando Collor de Mello se vê em posição oposta àquela por que passou durante o seu processo de impeachment, em 1992. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, o agora senador explicou que não há sentimento de vingança, embora defenda a saída em definitivo de Dilma Rousseff. Quando Collor governava, o PT foi um dos partidos mais aguerridos no esforço para derrubá-lo.
"Sinto-me desconfortável com essa situação. A casa que me caçou os direitos políticos é aquela a que hoje eu pertenço. Quando o Senado se torna júri, eu, como senador, sou um juiz. Então a história me trouxe para esse momento. Fico imaginando o sentimento [de Dilma], o desassossego", afirmou.
Collor, no entanto, deixou clara a sua posição. Ele julga que Dilma cometeu, de fato, crime de responsabilidade: "são fatos comprovados pela denúncia".
Traçando um paralelo com a sua própria experiência em 1992, o senador acredita que, na época, não havia crise política: "a questão política foi um pouco forjada, tanto que no dia seguinte acabou". Isso tornaria, de acordo com o político, a situação de hoje gravíssima.
"O afastamento da presidente não encerra a crise política e econômica. teremos dias turbulentos nesse futuro próximo. Ninguém pode achar que o afastamento vai resolver os problemas que estamos precisando enfrentar", analisou.
Collor defende a união das forças políticas em torno de Michel Temer que, segundo ele, é quem traz a melhor chance de recuperação da crise. "A permanência da presidente é inviável, porque não há possibilidade, em uma eventual permanência, de vislumbrar uma saída. Diferentemente da situação de ela estar afastada. Nesse caso, temos uma base parlamentar sólida para avançar com as reformas necessárias".
Lição Aprendida
O senador conta que seu maior erro, enquanto foi presidente, foi a falta de atenção dada às relações com o Poder Legislativo. "Essa interação [entre legislativo e executivo] é importante. Eu não dei a importância devida a esse relacionamento, fiquei envolvido com a agenda do dia a dia, com os projetos".
Ele fez questão de afirmar que todo presidente - incluindo, portanto, Dilma Rousseff - tem de se ater a isso: "num regime presidencialista, o presidente é o líder político da nação, tem de destinar grande parte do seu tempo às relações políticas com a casa que faz a política. Isso foi um equívoco grande, é uma lição que aprendi".