segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Dilma 'trambique' foi para a defensiva. Não apareceu no Senado a personagem criada para estrelar a emocionante narrativa do golpe parlamentar.

Luiz Weber - Epoca

A presidente afastada Dilma Rousseff responde perguntas dos senadores durante julgamento do impeachment (Foto: EVARISTO SA / AFP)


Nenhuma surpresa. Dilma é Dilma. Não apareceu no Senado a personagem criada para estrelar a emocionante narrativa do golpe parlamentar. Alguém para arrebatar multidões e forjar cenas e frases para os livros de história. Dilma foi ao plenário para ser a advogada de si mesma. Ensinava Calamandrei, o italiano mestre dos defensores: “Não aborreça os juízes com sua prolixidade”. 
Mas a natureza de Dilma fala mais alto. A presidente afastada joga neste momento no campo armado pela oposição. Fala em crise internacional, meta primária, commodities, em decretos de crédito. Caiu na isca. Nessa toada, melhor para o Ibope do filme que pretende recontar o processo de impeachment fazer uma edição caprichada do depoimento do técnico do Tribunal de Contas de União (TCU), que pontificou sobre os meandros do orçamento da União.
Dilma citou Lula apenas uma vez no discurso – e o ex-presidente está nas galerias ladeado do compositor Chico Buarque para figurar takes memoráveis. Certo, volta e meia acusa o processo, chancelado a seu lado pela presença física do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, de ser um golpe parlamentar. A presidente afastada parece não se dar conta do momento vivido, de estar diante de um tribunal que irá cassá-la nas próximas horas. 
Sim, cassar seu mandato. Em nada seu depoimento alterou o humor do plenário. Dilma está sendo Dilma, professoral e hostil diante de perguntas da oposição. Claro que a maturidade institucional exige que julgamentos não se contaminem por paixões ou melodramas. Mas a oposição temia que eventual eloquência ou sincericídio da presidente afastada quebrasse a internet e virasse votos. 
Mas Dilma não distingue plateias, as cadeiras de assessores que se postavam temerosos diante do púlpito do Planalto, dos estofados azuis do plenário do Senado, que irá julgá-la. Fala com a arrogância de sempre. O impeachment tem raízes jurídicas e política. Ela já perdera a batalha técnica, diante das provas amealhadas pelo TCU. Agora, assina a ata de seu julgamento final.