segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Dilma 'trambique', a vigarista 'honrada', usa 8 vezes mais palavras que carta de Getúlio e dilui impacto

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO - Folha de São Paulo


Esperado como um discurso mais emotivo, o texto lido pela presidente afastada Dilma Rousseff na sessão de hoje no Senado passou longe da carta-testamento escrita pelo presidente Getúlio Vargas antes de se suicidar, em 1954.

A diferença mais concreta é o tamanho. Getúlio usou 531 palavras para "sair da vida e entrar na história". A fala de Dilma tem 4.807 —33 delas para relembrar o próprio Getúlio.

O número de "nãos" proferidos pela presidente foi maior que isso: 56 ao longo dos 45 minutos em que falou.

Getúlio usou apenas 8 negativas, mas com mais intensidade: 1,8 a cada 100 palavras, contra 1,2/100 de Dilma.

A carta do presidente foi também mais pessoal. Somados, os pronomes eu, meu e minha apareceram 18 vezes, ou 3,6 vezes a cada 100 palavras. Dilma usou 53 desses termos, com um terço da subjetividade getulista: 1,1 vez a cada 100 palavras.

Reflexo dos momentos históricos e culturais diferentes, democracia e mídia não são citados por Getúlio. Já Dilma menciona 15 vezes a primeira e, por duas vezes, se diz vítima de um complô da segunda.

Referências a legitimidade também são exclusividade da presidente afastada: 8 no total.

Tanto Dilma quanto Getúlio falam sobre a vida em quatro passagens, mas só ele dá destaque ao próprio sangue —o que é óbvio, já que se trata do testamento de um suicida.

A presidente afastada ressalta a luta em 17 passagens, quase três vezes o número de Getúlio. Mas, em comparação à extensão dos textos, o recurso é usado com o triplo da frequência pelo presidente morto.

Por fim, a diferença de gênero. A referência ao fato de ser mulher aparece sete vezes na fala de Dilma, enquanto "homem" está ausente. Getúlio ignora qualquer das duas palavras.