terça-feira, 30 de agosto de 2016

Governo conta com 61 votos para aprovar o impeachment

Com Blog do Noblat - O Globo

O presidente interino Michel Temer foi dormir, ontem, sossegado depois de fazer e refazer as contas sobre o número de votos favoráveis e contrários no Senado à aprovação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Se não houver traições, 61 votos cassarão o mandato de Dilma e seus direitos políticos por oito anos.
Bem, poderão ser 62 votos caso Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, decida votar pela primeira vez. Por ora, só Renan e Temer sabem se Renan votará ou não, mas não contam a ninguém. Fernando Collor (PTC-AL) é tido como voto certo a favor do impeachment. Assim como Hélio José (PMDB-DF), que pareceu indeciso ao interrogar Dilma.
Aflição e alívio devem ter embalado o sono de Lula. Aflição porque ele acha que em breve poderá ser denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter ocultado patrimônio – o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia, os dois em São Paulo. E sabe que se isso acontecer acabará condenado pelo juiz Sérgio Moro.
O alívio de Lula tem a ver com a certeza compartilhada por ele com senadores do PT e a direção do partido de que o destino de Dilma está selado. Em breve, ela voará para Porto Alegre e, ali, se recolherá. De há muito que Lula está convencido de que o PT só tem a ganhar com isso, e ele também. Dilma virou um estorvo.
É um estorvo desde meados de 2014 quando não abdicou da reeleição para que Lula pudesse ser candidato com Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, de vice. Virou um estorvo gigantesco quando não soube enfrentar a crise da economia a partir do ano seguinte. Dela derivou a crise política responsável por seu afastamento do cargo.
O pior dos mundos para Lula e o PT seria, ao fim e ao cabo, a permanência de Dilma no poder. Eles não poderiam simplesmente abandoná-la. Mas continuariam sujeitos às suas decisões desastrosas. De resto, estão convencidos de que ela não seria capaz de reconquistar apoios para governar. E o partido chegaria em 2018 em piores condições do que está.
Melhor que fique nas costas de Temer a herança maldita legada por Dilma. Melhor que Lula e o PT possam passar imediatamente para a oposição ao governo. Se dependesse de Lula, Dilma não teria se ocupado tanto com questões técnicas como o fez no confronto com os senadores. Ele gostou do discurso lido por ela, mas do resto, não.
Mas a culpa é dele – e Lula o reconhece em conversas com amigos. Ele inventou uma criatura que pensou controlar. Ela escapou ao seu controle.
Michel Temer, presidente da república em exercício (Foto: O Globo)Michel Temer, presidente da república em exercício (Foto: O Globo)