segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Bilionário projeto de submarino da Odebrecht também está na mira da Omertà

Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso - O Estado de São Paulo

35ª fase da Lava Jato, que levou o ex-ministro Antonio Palocci para a cadeira, nesta segunda, 26, tem entre suas cinco frentes de benefícios construção de submarinos


palocci prosub
A 35ª fase da Operação Lava Jato tem como uma das frentes de apuração de suposto benefício obtido pelo grupo Odebrecht por intermédio do ex-ministro Antonio Palocci, preso nesta segunda-feira, 26, está o projeto de construção de submarino nuclear.
“Nos leva a crer que as vantagens que a Odebrecht obteve no projeto dos submarinos estaria vinculado aos valores pagos a Palocci, afirmou o delegado da Polícia Federal Filipe Hille Pace.
“A partir da análise detalhada de e-mails e anotações registradas em celulares apreendidos, verificaram-se evidências de que o ex-ministro Antônio Palocci – contando com importante e constante auxílio de seu assessor Branislav Kontic – atuou em favor dos interesses do Grupo Odebrecht, entre 2006 e o final de 2013, interferindo em decisões tomadas pelo governo federal. A atuação de Palocci se deu inclusive no período em que exerceu relevantes funções públicas, envolvendo constante interlocução e diversos encontros”, informou o Ministério Público Federal.

Documento

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“Identificou-se que Antônio Palocci tratava com a empreiteira assuntos atinentes a pelo menos quatro diferentes esferas da administração pública federal: a) a obtenção de contratos com a Petrobrás relativamente a sondas do pré-sal; b) a medida provisória destinada a conceder benefícios tributários ao grupo econômico Odebrecht (MP 460/2009) c) negócios envolvendo programa de desenvolvimento de submarino nuclear – PROSUB; d) e financiamento do BNDES para obras a serem realizadas em Angola.”
trecho pedido palocci sub
O projeto envolve uma parceria entre a Odebrecht e a estatal Amazul (Amazônia Axul Tecnologias de Defesa), na formação da empresa Próton. O Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarino) começou em 2008, após um acordo firmado entre os governos da França e do Brasil. A meta é construir quatro submarinos convencionais e um nuclear em um estaleiro no Rio de Janeiro. Um negócio de R$ 27 bilhões, total.
“O Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 124/2016 permitiu explicar outros aspectos dos pagamentos relacionados na planilha e solicitados por Antonio Palocci”, informou a Polícia Federal, em seu pedido de prisão de Palocci.
“Em e-mails encontrados e colacionados abaixo, Romildo Santos, diretor-superintende do PROSUB na Odebrecht, encaminhou para Benedicto Barbosa da Silva Júnior, líder empresarial da Odebrecht Ingraestrutura, documentos para encontro de Marcelo Bahia Odebrecht com Antonio Palocci Filho (Italiano), relativo ao PROSUB –
Programa de Desenvolvimento de Submarino, responsável pela produção do primeiro submarino de propulsão nuclear do Brasil.”
prosub vaccari
As investigações apontaram, ainda, evidências de que a atuação do ex-ministro e de Branislav ocorreu mediante o recebimento de propinas pagas pelo grupo empresarial, dentro de um contexto de uma espécie de “caixa geral” de recursos ilícitos que se estabeleceu entre a Odebrecht e o Partido dos Trabalhadores (PT). Conforme planilha apreendida durante a operação, identificou-se que entre 2008 e o final de 2013, foram pagos mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes, incluindo Palocci. Remanesceu, ainda, em outubro de 2013, um saldo de propina de R$ 70 milhões, valores estes que eram destinados também ao ex-ministro para que ele os gerisse no interesse do Partido dos Trabalhadores.