quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Geraldo Carneiro é eleito para a Academia Brasileira de Letras


O poeta e roteirista Geraldo Carneiro, eleito para a cadeira 24 da ABL - Antonio Guerreiro / Agência O Globo


O Globo


Poeta, letrista e dramaturgo ocupará cadeira 24, que pertencia a Sábato Magaldi

O poeta, letrista, dramaturgo e roteirista mineiro Geraldo Carneiro, de 64 anos, foi eleito na tarde desta quinta-feira, membro da Academia Brasileira de Letras, em votação no Petit Trianon, no Centro do Rio. O mais novo "imortal" recebeu 33 votos e vai ocupar a cadeira 24, que pertencia ao escritor e crítico teatral Sábato Magaldi, morto em julho deste ano.

Nascido em Belo Horizonte, em 1955, Carneiro mora no Rio desde 1955. Seu pai, o Geraldo Andrade Carneiro, era secretário do então presidente Juscelino Kubistcheck. Entre suas coletâneas de poemas, estão obras como "Pandemônio" (93), "Folias metafísicas" (95), "Por mares nunca dantes" (2000), "Lira dos Cinquent’anos" (2002), "Balada do impostor" (2006) e "Poesia reunida" (2010).

Carneiro é considerado um dos principais tradutores de William Shakespeare. Nos últimos 30 anos, verteu para o português diversas peças do dramaturgo, como "Trabalhos de Amor Perdidos", "Antonio e Cleópatra", "Romeu e Julieta" e "Rei Lear".

No teatro, tem parcerias com Miguel Falabella ("Apenas bons amigos") e Wagner Tiso (a ópera "Manu Çaruê"). Também escreveu as peças "Divina increnca" e "A Bandeira dos Cinco Mil Réis", encenadas em 1986. Na TV, ajudou a roteirizar, em 2011, o remake da novela "O astro", de Janete Clair. Adaptou diversas obras literárias para a série Brasil Especial, como "O Santo que não acreditava em Deus", "A Desinibida do Grajaú" e "O Compadre de Ogum".

Como compositor, tem parcerias com Eduardo Souto Neto, com quem compôs "Choro de Nada", gravada por Vinicius de Moraes e Toquinho e Tom Jobim e Miúcha. Também compôs com nomes como Egberto Gismonti e Astor Piazzolla e fez parte do grupo de rock progressivo A Barca do Sol.

Carneiro é expoente da poesia marginal, movimento dos anos 1970, que usava métodos alternativos para divulgar o seu trabalho, como o miméografo. Em janeiro, ao completar quatro décadas de escrita poética, lançou uma antologia com o sumo de sua constelação de versos, “Subúrbios da galáxia” (Nova Fronteira). No momento, trabalha em três criações teatrais: as peças “Os vilões de Shakespeare”, “Uma peça sobre Tchekhov” e “Rio, o musical”, com direção de Ulysses Cruz.

— Meu trabalho como poeta é uma desordem em progresso. Então sou incapaz de explicar ou interpretar meus poemas, e nem me forço, até por coerência e respeito a essa desordem constitutiva da poesia que faço — disse ele, em entrevista ao GLOBO, em janeiro. — O que faço questão, na poesia, é de cometer certos descentramentos. Tenho um projeto de ser múltiplo de mim, ter heterônimos como Fernando Pessoa, mas falta a disciplina necessária.