quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Juros no rotativo do cartão de crédito chegam a 480% ao ano


  - Simon Dawson / Bloomberg
Geralda Doca - O Globo
No cheque especial, taxa é de 324,9%; juro médio ao consumidor é de 42,5%, diz BC
Os juros dos empréstimos continuaram pesando no bolso dos brasileiros em setembro, de acordo com dados do Banco Central (BC), divulgados nesta quarta-feira. A taxa do cartão de crédito no rotativo bateu 480,3% ao ano — aumento de 5,3 pontos percentuais na comparação com agosto e de 48,9 pontos percentuais no ano. O maior patamar desde março de 2011.

Quem ficou pendurado no cheque especial em setembro arcou com um custo de 324,9% ao ano - a maior taxa da série do BC, iniciada em 1994. No mesmo período do ano passado, o percentual estava em 263,7% - o que representou uma alta de 61,2 pontos percentuais.

A taxa média do crédito pessoal também subiu para 135,1% ao ano (alta de 17,4 pp no ano). O relatório do BC mostra que apesar da manutenção da inadimplência em 6,2% desde dezembro do ano passado - o ganho dos bancos (spread, diferença entre o custo de captação e o valor pago pelos tomadores), alcançou 60,8 pp - o nível mais alto da série do BC. Na média, os juros cobrados das pessoas físicas com recursos livres atingiram 73,3% ao ano.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o aumento das taxas é reflexo do cenário adverso da economia nos últimos dois anos, com aumento do risco para os bancos devido à queda na renda das famílias e alta do desemprego. Ele explicou também os juros médios estão influenciados pelos custo mais alto de algumas modalidades, como do cartão de crédito, por exemplo.

- As taxas voltaram a subir em setembro e alcançaram níveis históricos - disse Maciel, acrescentando:- É importante que o cidadão tenha conhecimento dos custos, como cartão de crédito no rotativo, por exemplo e use a modalidade de forma cautelosa e por curto espaço de tempo.

Para o diretor, ainda não há previsão exata de quando o corte na taxa básica de juros (Selic) - que caiu de 14,25% para 14% na semana passada - terá efeitos no crédito para os consumidores. Segundo ele, é possível que haja algum impacto nos dados de outubro, a serem divulgados pelo BC em novembro.

No mês passado, os juros médios cobrados das empresas caíram ligeiramente para 21,4%, somando recursos livres e direcionados. Em 12 meses, a queda foi de 1 pp.

O relatório do BC confirma a trajetória de queda do crédito: o saldo total das operações do sistema financeiro ficou em R$ 3,109 trilhões em setembro — registrando queda de 0,2% em relação ao mês anterior e de 3,4% no ano. O montante corresponde a 50,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Em setembro de 2015, essa proporção era de 54% do PIB.

Houve retração nos empréstimos de forma geral e para pessoas físicas, principalmente, o recuo foi maior devido à greve dos bancários, que durou 30 dias. No mês passado, as concessões de financiamento habitacional e de consignados caíram 24% e de veículos, 8,5% - na comparação com agosto.