segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Paulo Cezar Caju: "O Maraca é do povo"

O Globo

Na minha estreia no Maracanã fiz três gols no América. No Maracanã, joguei por Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo. No Maracanã, já fui idolatrado e vaiado pela galera da Geral. No Maracanã, já dei balãozinho e acenei para a namorada da vez, na Tribuna.

No Maracanã, assisti a uma exibição do time de vôlei, de Bernard & Cia. No Maracanã, delirei com Frank Sinatra e Paul McCartney. No Maracanã, chorei e sorri. No Maracanã, pela Máquina Tricolor, venci o poderoso Bayern de Munique. No Maracanã, Neymar comandou nosso primeiro título olímpico.

Todos os craques sonham pisar no Maracanã, sejam jogadores ou cantores. O Maracanã não é de Flamengo, Fluminense, Vasco ou Botafogo. O Maracanã é do povo! E o povo quer diversão e arte, futebol, música e o que mais vier.

O Maracanã está em bocas de matilde, empresas e clubes brigando por sua administração. A Odebrecht mexe seus pauzinhos e faz suas indicações. A Odebrecht ainda tem moral para alguma coisa?

A francesa Lagardère, conheço dos tempos em que joguei no Olympique. O dono, falecido, era casado com uma brasileira, Beth Lagardere, e chegou a montar um time, o Racing de Paris, para fazer frente ao Paris Saint- Germain. Não durou muito. A ideia era ótima, ter uma segunda força.

A Lagardère administra estádios no mundo todo. Borússia Dortmund e Olympique Lyonnais são dois bons exemplos. No Brasil, cuida da Arena Castelão. Nem sei quais são seus concorrentes nessa disputa longa, interminável, e nem me interessa, mas duvido que a Lagardère não deixe Flamengo e Fluminense jogarem no Maracanã, pois seria uma grande sandice.

O povão quer um Maracanã que ele possa frequentar, com preços acessíveis, restaurantes, museus, atrações e futebol, muito futebol. Se não dá para melhorar a qualidade do futebol, que pelo menos o Maracanã volte a ser um ponto turístico. O Maracanã não é dos clubes, é do povão, é do mundo, é do Rio de Janeiro.