sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

"À espera do apocalipse", por Ruy Castro

Efe/Peace Memorial Museum - 6.ago.45
EKB02 HIROSHIMA (JAPÓN) 03/08/2010.- Fotografía facilitada de laexplosión de la bomba atómica tras caer sobre la ciudad japonesa deHiroshima (Japón) el 6 de agosto de 1945. Ban Ki-moon será el primersecretario general de la ONU en asistir a una ceremonia de aniversariodel lanzamiento de la bomba atómica en Hiroshima. Por primera vezEstados Unidos enviará un delegado para que acuda al evento. El EnolaGay lanzó una bomba atómica sobre Hiroshima el 6 de agosto de 1945 loque causó la muerte de decenas de miles de personas en segundos. Afinales de ese año, 140.000 personas murieron a consecuencia de losefectos de la radiación. El 9 de agosto de 1945 una segunda bombaatómica estalló en Nagasaki lo que causó la muerte de ma´s de 73.000personas. EFE/Peace Memorial Museum SOLO USO EDITORIAL
Foto mostra a explosão da bomba atômica após cair sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945

Folha de São Paulo

Consultei distraído o relógio outro dia e descobri, alarmado, que estamos a dois minutos e meio da meia-noite. Não o meu próprio relógio, que, há anos, só uso quando saio à rua de camisa social e calça comprida, mas o Relógio do Apocalipse — também chamado de Relógio do Fim do Mundo ou do Juízo Final. Trata-se de uma marcação simbólica do tempo, criada em 1947 pelo "Bulletin of the Atomic Scientists", da Universidade de Chicago, e atualizada, quando a situação exige, por um grupo de cientistas e intelectuais, incluindo hoje 16 ganhadores do Prêmio Nobel.

O relógio mede a quantos minutos estamos da meia-noite, representando a destruição da humanidade por uma guerra nuclear. A atualização se dá de acordo com o acesso de novos países à tecnologia nuclear, o grau de armamento desses países e os maus bofes ou irresponsabilidade de seus governantes. O mais próximo que estivemos da meia-noite — dois minutos — foi em 1953, quando EUA e URSS, ou Eisenhower e Stalin, estiveram a ponto de mandar o dedo. E o mais distante — 17 minutos — foi em 1991, quando a queda do Muro de Berlim decretou o fim da Guerra Fria.

A última atualização foi há três semanas, no dia 27 de janeiro. Com Donald Trump na Presidência americana, o assanhamento da Coreia do Norte, o terrorismo internacional, os drones, os ciberataques e o aquecimento global, estamos a dois minutos e meio da hora final. É a segunda pior marca do relógio.

Só espero que, nesse curto espaço, tenhamos tempo, no Brasil, para chegar ao nosso próprio apocalipse: a também chamada Delação do Fim do Mundo — em que as revelações dos informantes da Odebrecht porão em seu devido lugar, a cadeia, os patifes que ainda circulam por aqui.

Mas, pelo ritmo com que andam as coisas, periga o nosso apocalipse só acontecer depois.