sexta-feira, 24 de março de 2017

Delator diz que Duda Mendonça, ex-marqueteiro de Lula, o corrupto, pediu imóvel, mas levou 'bufunfa'

Fabio Braga - 25.ago.2014/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL - 25.08.2014: Sete candidatos que disputam a eleição ao governo de São Paulo participam hoje do debate promovido por Folha, UOL, SBT e Jovem Pan. Na foto o candidato ao Governo de Sao Paulo Paulo Skaf (PMDB) conversa com o publicitario Duda Mendonça. ( Foto: Fabio Braga/Folhapress, PODER)
O publicitário Duda Mendonça conversa com Paulo Skaf (PMDB) em debate nas eleições de 2014

BELA MEGALE
LETÍCIA CASADO
CAMILA MATTOSO

Folha de São Paulo


O marqueteiro Duda Mendonça solicitou à Odebrecht, segundo um ex-executivo da empresa, um apartamento como parte de seu pagamento por ter atuado na campanha de Paulo Skaf (PMDB) ao governo do Estado de São Paulo, em 2014.

Em depoimento à Justiça Eleitoral, Hilberto Mascarenhas, que era o responsável pelo departamento de operações estruturadas da Odebrecht no início de 2015, disse que negou a solicitação. A Folha teve acesso à íntegra do depoimento.

"Ele veio me solicitar que eu compasse para ele um apartamento em Salvador, num prédio novo que está lançando lá, que custava R$ 6,5 milhões, R$ 7 milhões.

Disse: 'Compra um apartamento pra mim e nós estamos quites'", relatou o ex-executivo em depoimento na ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

"Como é que eu compro oficial um apartamento, boto no ativo da empresa, depois transfiro para o Duda Mendonça? Pelos seus belos olhos? Não existe, Duda, esqueça", enfatizou Hilberto, que na época comandava a área responsável por pagamentos ilícitos da empresa.

Duda pediu, então, que comprasse cavalos. "Olha Duda, não teremos fruto nessa reunião. Interrompa, vá embora, mande seu filho voltar aqui amanhã com outro tipo de mente, raciocínio, porque o que você vai receber é bufunfa, ou aqui ou em conta no exterior", explicou Hilberto.

"Aqui não tem negócio de nota falsa, não tem nada disso, é pagamento em dinheiro, tchau e 'bença' e acabou a conversa", finalizou.

Posteriormente, o repasse foi combinado entre o filho do Duda e Fernando Migliaccio, que era funcionário de Hilberto.

Segundo o delator, esse montante fazia parte de uma doação combinada para a campanha de Paulo Skaf e que ficou em aberto após o pleito terminar.

Hilberto disse que, ao todo, foram acertados R$ 10 milhões para a campanha do peemedebista e que R$ 6 milhões deles foram pagos à Mendonça.


OUTRO LADO

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, candidato a governador em 2014 pelo PMDB, disse ter total desconhecimento do assunto e afirmou considerar um absurdo as informações de que despesas de sua campanha política foram pagas com recursos de caixa dois.

Procurado pela reportagem, o marqueteiro Duda Mendonça não respondeu às mensagens enviadas nem os contatos feitos pela Folha para ouvir sua posição sobre as negociações que tem feito com a Procuradoria-Geral da República a respeito de dinheiro de caixa dois recebido da Odebrecht por campanhas políticas feitas por ele.

A reportagem procurou ao menos quatro advogados que já trabalharam com o marqueteiro nos últimos anos para um posicionamento.

O único que se manifestou foi o escritório Lira Rodrigues, Coutinho & Iunes Advogados, de Brasília.

Afirmou ter sido contratado por Duda há cerca de três meses para auxiliar em eventuais esclarecimentos solicitados pelas autoridades sobre seus trabalhos em campanhas políticas.

O escritório disse, porém, que não haveria nenhuma negociação em andamento de acordo de delação do marqueteiro, que atuou na campanha de Skaf em 2014, e declarou que não comentaria as informações apuradas pela reportagem.

Procurada pela reportagem, a Odebrecht informou que não iria se pronunciar.