quinta-feira, 23 de março de 2017

Odebrecht: "Temer não tratou comigo absolutamente nada"

Com O Antagonista


Na segunda acareação no TSE, Marcelo Odebrecht disse que não tratou de valores para a campanha dos candidatos do Michel Temer, no famoso jantar no Palácio do Jaburu; Cláudio Melo também afirmou que "O Sr. Michel Temer não tratou comigo absolutamente nada".
O pedido de dinheiro foi feito por Eliseu Padilha, que especificou a cifra de10 milhões de reais, segundo Marcelo Odebrecht. Cláudio Melo Filho afirmou que tratou com Padilha.
Paulo Skaf, então candidato ao governo de São Paulo, queria outros seis milhões de reais, mas o empreiteiro lhe disse que essa soma deveria sair dos dez milhões que a Odebrecht iria dar ao PMDB.
Marcelo Odebrecht relatou também que, certo dia, Paulo SKaf o colocou ao telefone com Michel Temer. O então vice-presidente afirmou que era importante "apoiar o Paulo". Ao conversar novamente com Skaf, o empreiteiro reiterou que era preciso assegurar que "o dinheiro que Michel quer para o grupo dele vá seis para sua campanha".
Depoente (Marcelo Odebrecht) — Excelência, como acho que mencionei no último depoimento, o jantar, na verdade, eu acho que, a meu modo de ver, é até, o assunto antecipa muito o jantar. O jantar, na verdade, foi o check in hand. Na verdade, semanas antes do jantar, nem se existia, houve, o Cláudio Melo me ligou e disse que havia uma solicitação de dez milhões, que o Padilha havia feito, para apoiar candidatos do Temer, do grupo do Temer, digamos assim. E eu, como sempre fiz com o Cláudio Melo, e todos os empresários do grupo sabem disso, eu disse: Cláudio, você tem que procurar um empresário do grupo que esteja disposto a fazer este apoio, certo? E ele foi procurar algum empresário do grupo que tivesse disposto a fazer este apoio. Neste interim – e é por isso que eu digo que esse assunto (...) – havia um pedido do Paulo Skaf para mim, que não teria nada a ver com esse pedido do Michel Temer, mas havia um pedido do Paulo Skaf para mim para apoiar ele na campanha no montante de seis milhões, um valor que era muito alto relativamente ao que a gente gastaria numa campanha da candidatura dele. E eu tinha dito a ele, num primeiro momento, que eu não conseguiria ir com esse valor e ficamos por isso aí. Bom, nesse interim, o Cláudio estava evoluindo, eu não estava acompanhando, mas, em determinado momento, veio a ideia, aí, o Paulo voltou ao assunto e eu falei: Paulo, você é um candidato que é apoiado por Michel. Eu estou sabendo que o Michel fez um pedido para apoiar candidatos e que montava 10 milhões. Vamos fazer o seguinte? Consiga que o Michel... se a gente conseguir apoiar — porque isso está sendo definido por outros empresários —, se a gente conseguir apoiar em 10 milhões, consiga que Michel direcione dos 10, 100 milhões para você. Em determinado momento, ele até me colocou numa ligação celular com Michel, que ele falou: “Ó, Marcelo...” Ele ligou para mim: “Marcelo, tem alguém aqui querendo falar com você”. Aí eu atendi, era o Michel, e falou: “Marcelo, a importância de apoiar [conversa totalmente institucional], a importância de apoiar o Paulo”. Aí, falei: “Sim, Presidente, pá, pá”, desliguei o assunto. Aí, depois, até procurei o Paulo: “Paulo, não é bem assim, você precisa assegurar que o dinheiro — não dá para ser só essa conversa —, você precisa assegurar que o dinheiro que Michel quer para o grupo dele vá seis para sua campanha”. Ficou por isso. Nesse ínterim, o Cláudio voltou para mim e disse que já tinha conseguido com algum empresário, que, se eu me recordo é da área de infra, eu não sei quem, que ele iria apoiar esse grupo de Michel Temer em 10 milhões de reais. Aí eu falei: Cláudio [e a única razão pela qual eu fui nesse jantar era para fazer o check-in antes e assegurar que, dos 10, 6 eu conseguiria garantir para Paulo]. Só que num jantar com o vice-Presidente, até pela liturgia do cargo, as coisas se resolvem antes. Então, Cláudio já havia acertado com o Padilha antes que seria 10 e seria 6 para Paulo Skaf. Quando eu cheguei lá na casa do Michel Temer com o Cláudio, teve até uma primeira conversa — eu, ele e o Padilha —, que ficou mais ou menos acertado isso. Depois teve o jantar com o Michel, que foi um jantar institucional, até pela liturgia do cargo, eu nunca faria a falta de educação de mencionar valor — eu comentei isso referente à presidência Dilma, quer dizer, quem pediu os valores específicos era o Guido, eu me assegurava que ela sabia mais ou menos da dimensão do nosso apoio, ela dizia que o Guido ia me procurar, mas eu nunca falei de valor. A liturgia, a questão de educação, você não fala com o Presidente ou o vice-Presidente a questão do valor, e, em determinado momento, ele saiu do jantar, foi na época do... e, com o Padilha e Cláudio, nós fechamos: “Olha, então está certo, aqueles 10 que o Cláudio acertou com você, que foi apoiado, dos 10, 6 vai para Paulo Skaf”. Foi isso, basicamente, o que aconteceu.
Juiz Auxiliar Eleitoral — E agora, trazendo o mesmo episódio ao Sr. Cláudio, em relação à descrição do Sr. Marcelo, tendo em vista o seu depoimento anterior, o que haveria para retificar ou para confirmar em relação aqui ao depoimento do Sr. Marcelo?
Depoente (Cláudio Melo) — Eu confirmo o depoimento que dei na minha colaboração e aqui, na segunda-feira, até falamos de um eventual pedido. O Sr. Michel Temer não tratou comigo absolutamente nada. Quem tratou comigo foi o Eliseu Padilha sobre um outro tema que, realmente, efetivamente, eu falei com o Marcelo. Ele me disse que procurasse a área de estrutura, Benedicto Júnior.