domingo, 23 de abril de 2017

Macron ganha apoio de socialistas e conservadores: 'Viramos página'



Emmanuel Macron e a mulher, Brigitte Trogneux, são saudados por apoiadores - PHILIPPE WOJAZER / REUTERS


O Globo


Fillon e Hamon declaram voto em ex-ministro, e Hollande estuda fazer apelo contra a extrema-direita; Le Pen comemora 'resultado histórico para a sobrevivência francesa'


PARIS — O ex-ministro Emmanuel Macron e a eurodeputada Marine Le Pen comemoraram o que consideraram um momento histórico na vida política francesa ao serem apontados vitoriosos no primeiro turno da eleição presidencial. O centrista recebeu um inédito apoio dos candidatos socialistas e conservadores, que costumavam ser as duas grandes forças opostas na vida política da França, além do presidente François Hollande. Os dois se enfrentarão num segundo turno no próximo dia 7.

Pesquisas de boca de urna do instituto Ipsos-Sopra Steria, encomendada pela France Télévisions, Radio France e “Le Monde”, indica que Emmanuel Macron e Marine Le Pen irão disputar o segundo turno da eleição presidencial, marcada para o dia 7 de maio.

— Hoje claramente estamos virando uma página da vida política francesa. Os franceses expressaram seu desejo de renovação — disse Macron à agência AFP, antes de fazer um comício de vitória. — Em vosso nome, encarnarei a voz da esperança para nosso país e para a Europa — declarou Macron, que disse querer ser "o presidente dos patriotas frente à ameaça dos nacionalistas".

De acordo com a pesquisa, Macron alcançou 23,7% dos votos, contra 21,7% da segunda colocada, a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen. François Fillon ficou em terceiro lugar, com 19,5% dos votos, e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, em quarto, com 19,5%. 

Benoît Hamon, do partido do atual presidente, ficou apenas na quinta colocação, com 6,2% do votos, segundo a pesquisa de boca de urna. Já segundo uma pesquisa da Kantar Sofres-Onepoint para o diário "Le Figaro" coloca Macron e Le Pen empatados em 23%, enquanto Mélenchon e Fillon teriam 19% cada. Hamon alcançaria 5,8%.

— A sobrevivência francesa está em jogo. Convido todos os patriotas a se juntarem — disse Le Pen em um comício, comemorando o "resultado histórico". — O resultado me põe em uma grande responsabilidade de defender a nação francesa, sua unidade, sua segurança, sua cultura, prosperidade e independência.



Le Pen celebrou resultado - PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS



O primeiro turno desta eleição presidencial foi o mais acirrado da história recente da França. Quatro candidatos chegaram neste domingo com chances reais de irem para o segundo turno, mas o resultado confirmou as últimas pesquisas de intenção de voto.

Derrotados, Fillon e Hamon pediram votos para o centrista.

— A luta continua — declarou Hamon, após a publicação dos primeiros resultados, que lhe atribuíram entre 6% e 7% dos votos, configurando, portanto, sua eliminação .— Esta derrota é um golpe profundo — admitiu Hamon, acrescentando que apesar dos resultados, "a esquerda não está morta".

Admitindo o que chamou de um "desastre", o vencedor das primárias organizadas pelos socialistas e seus aliados assumiu "a plena responsabilidade" pelos resultados, mas foi claro sobre quem escolheria, indicando Macron.

— Faço uma clara distinção entre um adversário político e uma inimiga da República — disparou Hamon, num ataque a Le Pen.



Hamon declarou apoio a Macron após derrota - VINCENT KESSLER / REUTERS


Ao admitir derrota, Fillon também pediu apoio a Macron, assim como fez o também ex-premier Alain Juppé, seu correligionário e derrotado por ele nas primárias de seu partido.

— Não há outra opção a não ser votar contra a extrema direita, vou votar em Emmanuel Macron — disse Fillon a seus apoiadores.

Segundo fontes próximas a Hollande, o presidente parabenizou Macron — seu ex-ministro da Economia — e pedirá aos conterrâneos "um voto contra a extrema-direita".

Já Mélenchon, por sua, vez preferiu "não validar o resultado baseado em pesquisas" e disse que não terá um candidato no segundo turno:

— Faço um apelo à contenção — citando uma espera pelo resultado nas grandes cidades.

EX-BANQUEIRO E EX-SOCIALISTA

Há três anos, Emmanuel Macron era praticamente desconhecido. Agora, esse ex-banqueiro pode ser o presidente mais jovem da história da França, aos 39 anos.

Esse homem de grandes ambições se distanciou do socialista e atual presidente, François Hollande, em agosto de 2016, após dois anos como seu ministro da Economia, para se concentrar na construção de seu próprio movimento "Em Marcha!".

Em discursos, Macron diz não ser de direita nem de esquerda, ao defender ideias liberais que irritam seus pares socialistas e ao questionar os fundamentos de uma esquerda francesa ainda influenciada por uma visão marxista da economia, que vê com receio o mundo empresarial.

Inspirado no modelo escandinavo, seu discurso seduz, sobretudo, os jovens dos centros urbanos e do mundo dos negócios em um país no qual a maioria da população já não confia nos partidos tradicionais.

HERDEIRA DA EXTREMA-DIREITA

Marine Le Pen, filha do líder histórico da extrema-direita francesa, chorou de alegria quando em 2002 seu pai provocou um terremoto político passando para o segundo turno presidencial. Agora ela repetiu a façanha.

No entanto, se Jean-Marie Le Pen pensava que nunca se tornaria um chefe de Estado, sua carismática filha e herdeira política está convencida de que no próximo 7 de maio a França terá sua primeira presidente mulher.

A candidata da Frente Nacional (FN), de 48 anos, soube capitalizar a insatisfação dos franceses com o desemprego e a imigração, e aproveitar a onda nacionalista na Europa para se transformar em uma das favoritas ao segundo turno das eleições presidenciais, no próximo 7 de maio.

Com um programa centrado no "patriotismo" e na "preferência nacional", Le Pen espera agora desmentir as pesquisas que preveem sua derrota no segundo turno. Promete, entre outras coisas, a suspensão dos acordos de livre circulação no interior da UE, a expulsão dos estrangeiros vigiados por radicalização e a supressão do "ius soli", a nacionalidade por direito de solo de nascimento.




Macron beija a mulher, Brigitte, em comício - PHILIPPE WOJAZER / REUTERS