quinta-feira, 25 de maio de 2017

'Economist': reformas importam mais que Temer

The Economist


Quando Michel Temer assumiu a Presidência em agosto passado, após o impeachment de Dilma Rousseff, ninguém via nele uma ruptura radical com o passado de corrupção. Correligionários seus no PMDB, e de Dilma no PT, estão sendo investigados, quando já não foram condenados, pela Operação Lava Jato. A diferença é que Temer, um político mais tarimbado que Dilma, está realizando as reformas econômicas, de suma importância, que a petista não conseguiu levar adiante. É por isso que, embora não chegue a ser surpreendente, o fato de o presidente agora ser alvo de um inquérito criminal no Supremo Tribunal Federal (STF) é ruim para o Brasil.

MICHEL TEMER
Se permanecer no Palácio do Planalto, Temer enfrentará muito mais dificuldades para aprovar as reformas no Congresso Foto: MARCOS CORRÊA/PR
Não está claro se Temer realmente cometeu crimes. As novas denúncias foram feitas pelo empresário Joesley Batista, da gigante de carnes JBS, que era investigado em diversos casos de corrupção. Na esperança de obter um acordo de colaboração premiada, o empresário gravou um encontro que teve com o presidente na calada da noite. No áudio, Temer parece apoiar a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e escuta sem fazer objeções quando Joesley o põe a par dos esforços que vinha fazendo para obstruir a Justiça. Em outro depoimento, um subordinado do empresário relata o pagamento de propinas a Temer; o deputado Rocha Loures (PMDB-PR), homem de confiança do presidente, foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil.

Ainda é cedo para exigir a renúncia de Temer. O presidente alega que o áudio de sua conversa com Joesley foi adulterado. Com a delação, o empresário escapou de ser preso e se limitou a pagar uma multa de R$ 110 milhões para acertar suas contas com a Justiça. Temer se diz inocente e quer que o inquérito em curso no STF seja concluído rapidamente.
Acontece que as denúncias já debilitaram seu governo e o País. Desde que a notícia da gravação feita por Joesley veio à tona, a Bolsa brasileira sofreu desvalorização de 7%. Apesar de todos os seus defeitos, Temer vinha obtendo avanços nas reformas de que o Brasil tanto precisa. A economia começa a sair da pior recessão que o País já viveu; a inflação e os juros estão em queda. Temer estimula essa recuperação promovendo a reforma da Previdência Social, cujo déficit acabaria sufocando a economia, se nada fosse feito. Também tenta liberalizar a legislação trabalhista, inspirada na "Carta del Lavoro" de Benito Mussolini. A última ação da Lava Jato deve atrasar essas reformas, se é que não terminará por inviabilizá-las.
Se permanecer no Palácio do Planalto, Temer enfrentará muito mais dificuldades para aprovar as reformas no Congresso. Por outro lado, sua saída - seja por renúncia, impeachment, ou em virtude da cassação da chapa Dilma-Temer, a ser decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 6 de junho - talvez não resolva o problema. Na falta de eleições diretas, que dependeriam de uma emenda constitucional, o sucessor de Temer será nomeado pelo Congresso. Muitos dos atuais parlamentares de maior destaque também são investigados pela Justiça. Vai ser difícil pôr na Presidência um político de primeira grandeza que esteja livre de suspeitas e goze de apoio popular.
Com Temer ou sem ele, a melhor esperança para o Brasil agora é ter no Planalto um líder fraco, mas que consiga concluir o que o atual presidente começou. Além das reformas previdenciária e trabalhista, isso deveria incluir um princípio de reforma política, que poderia resultar na eleição de políticos menos corruptos em 2018. Uma cláusula de barreira nacional, por exemplo, impediria que legendas de aluguel tivessem representação no Congresso.
O Brasil passa por um processo de renovação política e econômica extremamente doloroso. Suas lideranças, por mais fragilizadas que se encontrem em razão de tantos escândalos, precisam perseverar nessa missão vital.