sexta-feira, 19 de maio de 2017

Ex-presidentes da Petros levaram milhões e até imóvel em NY, revela Joesley

Julia Affonso, Beatriz Bulla, Fábio Fabrinbi e Fábio Serapião - O Estado de São Paulo




Foto: Marcos de Paul/Estadão

O empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, declarou à Procuradoria-Geral da República que pagou entre março de 2010 e julho de 2015 propina de R$ 2.700.841,94 a Wagner Pinheiro, então presidente da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás. Seu sucessor, Luis Carlos Afonso, segundo o delator, levou US$ 1,5 milhão ‘na forma de transferência de propriedade de um apartamento em Nova York’. Os valores, segundo o delator, saíram do porcentual de 1% sobre a constituição do Fundo FIP-Florestal.

Documento

Para Wagner Pinheiro, o delator indicou propina de R$ 2.700.841,94, dos quais 300 mil foram em espécie.
“Entregas ocorridas em 6 de fevereiro de 2015 (100 mil), 25 de março de 2015 (50 mil), 28 de maio de 2015 (50 mil), 23 de junho de 2015 (50 mil) e 28 de julho 2015 (50 mil), feitas por Demilton a Junior, irmão de Wagner Pinheiro”, detalhou. “O valor remanescente foi pago por meio de notas fiscais falsas emitidas por Júnior contra empresas do Grupo JBS, quase sempre à razão de uma por mês, em valores que se iniciaram em R$ 34.374,99 e aumentaram progressivamente até alcançar R$ 53.249,99.”
Na Petros, relatou, Luis Carlos Afonso sucedeu Wagner Pinheiro e foi sucedido por Carlos Costa.
“Tanto Luis Carlos quanto Carlos aceitaram a continuação do esquema iniciado com Wagner”, disse.
Joesley afirmou que em 2011, com a incorporação da Eldorado pela Florestal, ele pagou US$ 1,5 milhão para Luis Carlos Afonso, na forma de transferência de propriedade de um apartamento em Nova York.
“Além do apartamento, o depoente transferiu para Luis Carlos aproximadamente o valor de US$ 5 milhões”, contou.
“Parte desse valor refere-se à propina de 1 % da operação com o Petros e parte refere-se a transferência feita pelo depoente a pedido de Vaccari, o qual, em algumas oportunidades, “pediu emprestada” a conta da offhore titularizada pelo depoente para transações relativas a esquemas próprios; que em razão dessa operação envolvendo J&F e Petros o depoente não realizou pagamentos a Carlos Costa.”
Guilherme Lacerda, relatou o empresário da JBS, apresentou ‘a pessoa de nome de João Basco, representante comercial baseado no Espírito Santo, dizendo que o acerto dos pagamentos deveria ser com ele’.
“João Basco emitiu, então, notas fiscais falsas de representação comercial contra empresas do grupo JF.
Sobrevindo sucessão nas presidências dos dois fundos, Carlos Casé, sucessor de Guilherme Lacerda na Funcef, rejeitou oferta de JB de continuidade dos pagamentos”, narrou.
Valores. No termo de colaboração número 2, intitulado ‘Fundos de Pensão’, Joesley detalhou o caminho do dinheiro. O empresário narrou que no primeiro semestre de 2008, montou operação que envolveu a aquisição, pelo BNDES, a Funcef – fundo de pensão dos Correios – e o Petros de 12.99% do capital da JBS, por US$ 1 bilhão, para o plano de expansão da JBS naquele ano. Joesley declarou que BNDES, Funcef e Petros montaram, nessa operação, o fundo Prot (de proteína), para financiar a capitalização da JBS.
Guilherme Lacerda era o então presidente da Funcef. Vagner Pinheiro, da Petros. O delator contou que ‘acordou’ com Guilherme Lacerda e Vagner Pinheiro, ‘1% para cada qual no valor de cada operação posterior à constituição do PROT que a JBS conseguisse obter junto aos fundos’.
Joesley narrou que durante as tratativas para a constituição do PROT, Guilherme Lacerda indicou que ele deveria estabelecer relacionamento mais próximo com Paulo Ferreira, do PT, ‘tendo em vista que o partido exercia influência, nos órgãos de deliberação coletiva de ambas as entidades, sobre os integrantes indicados por sindicatos’.
Segundo o empresário, Paulo Ferreira o apresentou a João Vaccari. O delator contou que entrou em acordo com Vaccari.
“João Vaccari recomendaria as operações de interesse do Grupo J&F aos dirigentes dos fundos sob sua influência, e o depoente pagaria ao PT o valor de 1% de cada operação que a J&F conseguisse obter junto aos fundos”, relatou aos investigadores.
“O depoente deseja ressaltar que, apesar do envolvimento político do primeiro escalão do Governo junto ao BNDES e Fundos, nunca houve interferência ou qualquer vantagem do depoente ou de qualquer executivo ou funcionário do Grupo J&F na área técnica, seja em valor de mercado de ações negociadas ou em avaliações das empresas investidas.”
O empresário narrou que em 2009, ‘o Grupo JBS incluía empresa denominada Florestal, plenamente operacional’.
“Funcef e Petros interessavam·se em investir em empresas de reflorestamento, já havendo, inclusive, tentado parceria com a Vale para essa finalidade. JB (Joesley Batista) entrou em acordo com Guilherme Lacerda e Vagner Pinheiro para ampliar as atividades da Florestal”, registra o anexo de delação de Joesley Batista.
“O veículo de investimento foi a constituição de fundo, denominado Fundo FIP-Florestal, em que cada fundo aportou cerca de R$ 275 milhões e a J&F e Marie Celso aportaram as ações da empresa Florestal. Salienta-se que, em 2010 ou em 2011, Funcef e Petros acabaram estabelecendo parceria com a Vale em moldes análogos Constituído o Fundo FIP-Florestal, o depoente pagou 1% para Guilherme Lacerda e Vagner Pinheiro”, afirmou.