domingo, 16 de julho de 2017

Partidos anti-União Europeia perdem força

Luiz Raatz - O Estado de S.Paulo


O arrefecimento da crise dos refugiados e a recuperação econômica da zona do euro, aliada à impopularidade do presidente americano Donald Trump, contribuíram, na avaliação da analistas, para o insucesso de partidos de extrema direita na União Europeia este ano. 
Em votações na França, Holanda, Áustria e Reino Unido, partidos eurocéticos e anti-imigração tiveram resultados ruins. A próxima grande eleição europeia, em setembro na Alemanha, deve ratificar a coalizão da chanceler Angela Merkel, principal fiadora da integração europeia. 
Marine Le Pen
Le Pen ficou desapontada com o número baixo de votos em seu partido nas eleições para escolher a nova Assembleia Nacional Foto: REUTERS/Jean-Paul Pelissier

Em 2016, votações como o Brexit e o referendo constitucional italiano refletiram o descontentamento europeu com o establishment político e o projeto de integração continental. O Partido da Independência do Reino Unido (Ukip) fez campanha pelo divórcio do país com a União Europeia e saiu como um dos vencedores do referendo. Na Itália, o projeto do então premiê Matteo Renzi de reformar a Constituição e a organização do Estado foi derrotado com o apoio do Movimento Cinco Estrelas, de Beppe Grillo, outro partido anti-UE. 
Traumatizada pelo Brexit, Bruxelas temia este ano sobretudo a ascensão de Geert Wilders, do Partido para a Liberdade, na Holanda, e uma possível vitória de Marine Le Pen na França, que levaria a extrema direita eurocética ao coração da segunda maior potência da UE. As urnas, no entanto, derrotaram os dois. O Partido Popular, de Mark Rutte, manteve-se no governo na Holanda e Emmanuel Macron chegou ao Palácio do Eliseu. 
Analistas indicam fatores circunstanciais e estruturais que mostram essa retração da extrema direita, apesar da ressalva de que esses partidos ainda formam governo em muitos países da UE, especialmente no Leste da Europa. 
“Há seis meses, acreditava-se que a extrema direita representava uma ameaça para a UE e a própria democracia de modo geral, o populismo é uma resposta aos efeito negativos da globalização, como pobreza, desemprego e desintegração da mídia tradicional”, diz Stefan Lehne, especialista em populismo de direita do Carnegie Europe Endowment for International Peace. “Mas hoje há um tom mais otimista graças aos últimos resultados eleitorais, que refletem a melhora nas crises na imigração e na economia e, de outro, um efeito negativo provocado pela chegada de Trump à Casa Branca.”
Uma pesquisa do Instituto Pew divulgada no fim de junho mostra que, em dez países da União Europeia, a aprovação às políticas de Trump varia entre 7% e 29% da população. Espanha, com 7%, Suécia, com 10% e Alemanha, com 11% lideram o rechaço ao americano. A melhor avaliação do republicano vem de países do Leste da Europa, como Polônia, com 23%, e Hungria, governada pela extrema direita, com 29%. 
“Esses elementos barraram a onda populista na França, na Holanda e na Áustria, mas seria equivocado dizer que a onda populista passou”, acrescenta Lehne. “As próximas eleições na Itália mostram partidos populistas, como o Movimento Cinco Estrelas e a Liga Norte, bem cotados.”
Melhora. Em seu relatório de 2017, a agência europeia para fronteiras (Frontex) informou que o número de imigrantes ilegais que entraram no bloco, em 2016, caiu para 511 mil, depois de 1,8 milhão de pessoas terem chegado à UE vindos do Norte da África, Oriente Médio e Sul da Ásia, em 2015. 
A economia, lembra o analista, também é outro fator que explica os resultados ruins da extrema direita, com o PIB da zona do euro mostrando desde 2011 um crescimento constante. Nos últimos três anos, a economia da região teve números positivos, com crescimento superior a 1,5%. 
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Movimentos de extrema direita na Europa

Com a recuperação, parte do argumento da extrema direita, de que a unificação rouba empregos dos trabalhadores europeus, perdeu um pouco da força, na avaliação do analista. Países mais afetados pelos acordos de austeridade patrocinados por Berlim já dão sinais de recuperação. “A eleição da Alemanha, grande motor da UE, deve dar a vitória a chanceler Merkel, apesar de uma certa insatisfação da população com a coalizão com os social-democratas”, conclui Lehne. 
Radicalismo na UE:
Ukip
Partido da Independência do Reino Unido teve papel crucial na campanha pelo Brexit. No entanto, em baixa, não elegeu nenhum deputado nas eleições deste ano, na qual os conservadores perderam a maioria absoluta no Parlamento e tiveram de negociar um governo de minoria

Frente Nacional
Principal legenda de extrema direita na França, o partido de Marine Le Pen chegou ao segundo turno na eleição presidencial, mas foi derrotado pelo centrista Emmanuel Macron

Partido Para Liberdade
Geert Wilders chegou a ser considerado favorito nas eleições holandesas, mas decepcionou nas urnas e viu o Partido Popular, do primeiro-ministro Mark Rutte, seguir à frente do governo