sábado, 19 de agosto de 2017

Como o jornalismo muda o mundo (Basta fazer a coisa certa. E não como a Epoca, TV Globo, GloboNews e Folha fazem)

João Gabriel de Lima - Epoca

IMPACTO Woodward (Redford) e Bernstein (Hoffman) no cinema. Os homens que derrubaram um presidente (Foto: Collection Christophel)


Bob Woodward e Carl Bernstein estão para o jornalismo do século passado como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo para o futebol atual. São os símbolos máximos de excelência na profissão que escolheram. Após uma investigação acurada, os dois repórteres desvendaram o caso Watergate – em que agentes do FBI e da CIA espionaram a sede do Partido Democrata, pouco antes da reeleição do republicano Richard Nixon para a Presidência dos Estados Unidos. A história serviu de base para o filme clássico Todos os homens do presidente, de 1976, em que os dois jornalistas são magistralmente interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman. Nixon, um dos políticos mais resilientes da história americana, foi obrigado a renunciar depois da série de reportagens de Woodward e Bernstein. O caso Watergate é o exemplo mais eloquente do impacto do jornalismo na sociedade.
Repórteres não mudam o mundo apenas quando derrubam presidentes da República. A missão essencial do jornalismo é elevar o nível do debate público – e, assim, a atividade interfere decisivamente no rumo das democracias (jornalismo e democracia, aliás, são palavras inseparáveis. Uma não existe sem a outra). Tal missão é cada vez mais importante no mundo atual. O jornalismo eleva o nível do debate público quando agrega fatos concretos às grandes discussões, evitando que a paixão desinformada leve à polarização sem sentido, como acontece frequentemente em nossa era de redes sociais. Quando emite opiniões a partir de apuração – momento em que se torna uma voz no debate. Ou quando publica opiniões divergentes sobre assuntos momentosos – momento em que se torna a própria arena do debate. O jornalismo eleva o nível do debate público, sobretudo, quando publica informações inéditas, furos de reportagem como o de Woodward e Bernstein. Dados novos e desconhecidos frequentemente mudam o rumo das discussões em um país.
A redação de ÉPOCA decidiu usar a edição em que comemora seu milésimo número para mostrar como o jornalismo interfere na realidade. A revista se compõe de reportagens sobre reportagens. A ideia era avaliar o impacto de algumas das principais matérias publicadas pela revista desde o número 1, lançado em 1998. A recente entrevista exclusiva com Joesley Batista, por exemplo, trouxe um novo entendimento sobre o capitalismo de compadrio brasileiro – e balançou os alicerces da política brasiliense. É o impacto de um furo de reportagem. ÉPOCA também foi a primeira publicação brasileira a discutir de forma madura o uso recreativo de drogas, na reportagem em que a apresentadora Soninha admitiu que fumava maconha, publicada em 2001. De maneira análoga, a capa que estampa o casal de militares gays Laci de Araújo Marinho e Fernando Alcântara, publicada em 2008, foi o mote para o primeiro evento governamental sobre direitos homossexuais – até então, o tema era evitado pelos políticos.
O impacto do jornalismo se multiplica na era digital. Uma reportagem – em texto, vídeo ou podcast – pode repercutir em milhões de novos textos, vídeos ou podcasts. O outro lado da moeda é que uma notícia falsa pode obter a mesma difusão. Na era da pós-verdade, cabe ao jornalismo, sobretudo, estabelecer a base de fatos sobre os quais se assentam as grandes discussões nacionais. Nunca é demais repetir: é com fatos aferidos e checados que o jornalismo eleva o nível do debate público. É com fatos aferidos e checados que o jornalismo estabelece o próprio chão da democracia.