Mila Cordeiro/Ag.A Tarde/Folhapress | |
O prefeito João Doria limpa restos de ovo atirado contra si por manifestantes em Salvador, na segunda (7) Folha de São Paulo
Quando o que sobrou da esquerda brasileira vai aprender? Alguém realmente acha que dar uma ovada em João Doria irá abalar sua imagem, denunciá-lo ao Brasil como um potencial genocida de cashmere ou alguma outra tolice dessas?
O prefeito paulistano reagiu à agressão na segunda (7) em Salvador de modo eficiente. E evidenciou que o pessoal defensor da ditadura venezuelana não compreendeu que esse tipo de enfrentamento não interessa ao eleitor.
Ninguém vai lembrá-los de quem levou a melhor com a violência que se insinuava entre brizolistas e colloridos em 1989? Voto não é "like".
Do ponto de vista do tucano, nenhuma gemada seria tão eficaz como estimulante. Doria pôde começar o dia elaborando o discurso moderado e conciliador que já vinha a testar para a hipótese de entrar na campanha em 2018 sem Lula como Judas de sábado de Aleluia.
Em evento com Michel Temer, foi exposto publicamente um flerte com o PMDB que vinha ocorrendo em conversas muito discretas. Todos ganham com esse balé, em que nada pode ser comprado pelo valor de face, exceto naturalmente o padrinho de Doria, Geraldo Alckmin. Ao fim, o prefeito insinua colocar na mesa a ficha que hoje não possui, a de sugerir ter apoio de uma máquina ainda mais formidável do que a do PSDB.
À noite, sob ovos, incorporou de forma mais completa o figurino de anti-Lula (ou contra qualquer um associado à esquerda). Vociferou em modo nacional como nunca antes, se apresentando como alguém de "sangue baiano", algo que o governador paulista nunca poderá fazer. Completou um "test -drive" completo.
Nada disso é definitivo, apenas mostra que as placas tectônicas da política estão se movendo. Alckmin ainda é o tucano que reúne mais apoio e condições políticas e empresariais para disputar a Presidência. Mas o dia, na segunda, foi de Doria.
Uma eleição para mandato-tampão de 14 meses no Amazonas, Estado que tem tantas peculiaridades que dificilmente serve de base para discussões de tendências nacionais, usualmente geraria algo como bocejos em Redações e escritórios políticos do eixo Brasília-São Paulo-Rio.
O pleito ocorrido no domingo (6), contudo, carrega alguns sinais que podem e devem ser ouvidas por aqueles interessados no que vai acontecer em 2018.
Primeiro, a força da chamada política tradicional. Passaram ao segundo turno dois ex-governadores e ex-prefeitos de Manaus, ambos com rolos judiciais. A máquina atropelou qualquer possibilidade de renovação.
Segundo, a reação a isso. Não falo da abstenção, tradicionalmente mais alta do que a média nacional devido justamente às características únicas do exercício do voto na floresta equatorial, mas sim dos brancos e nulos. Da pessoa que se deu ao trabalho de ir votar e disse não às opções: quase 16% dos eleitores fizeram isso.
Em 2014, brancos e nulos somaram 9,6% nacionalmente no primeiro turno, valor que vinha se mantendo relativamente estável desde 2002.
Pesquisas qualitativas de um candidato no Amazonas mostraram que o fastio do eleitor era tal que ele estava disposto a "votar naquele ladrão, mas que fez mais que o outro". É um ponto para reflexão.
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