quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Moro compara prisão preventiva de corruptos à de 'serial killers'

Eduardo Knapp/Folhapress
O juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato em Curitiba
O juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato em Curitiba


O juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, afirmou que a prisão preventiva de suspeitos de corrupção segue a mesma lógica da detenção de um "serial killer" antes do julgamento final.

Ele afirmou que boa parte das medidas cautelares tem como objetivo proteger a sociedade e as vítimas de novos crimes.

"Aqui podemos fazer uma comparação com uma situação que vemos muito no cinema: casos de serial killers. Não vai esperar ele ser preso até o fim do julgamento para que haja uma nova vítima", afirmou.

"O mesmo raciocínio existe para a corrupção sistêmica. O que foi observado é que essas pessoas praticavam esses crimes de maneira sistemática, reiterada. Daí a necessidade de usar um instrumento drástico para impedir a prática desses crimes", declarou o magistrado.

Ele citou o caso do ex-ministro José Dirceu, sem nomeá-lo, que é acusado de receber propina enquanto era julgado no caso do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal). A declaração foi dada em entrevista à GloboNews exibida na noite desta terça-feira (17).

Moro classificou como "proposta absurda" a tentativa de impedir delação premiada de pessoas presas. Ele disse, porém, que a Lava Jato entra numa fase em que se exige "acordos com condições mais rigorosas".

Ele citou como exemplo o caso do operador financeiro Lúcio Funaro, que ficará dois anos preso. A Procuradoria-Geral da República foi criticada pelos termos do acordo com Joesley Batista, da JBS.

"É importante evitar benefícios excessivos a esses indivíduos", afirmou.

Moro disse que, embora veja reação de agentes políticos a fim de afetar o combate à corrupção, avalia que "nada de efetivo foi feito". Mas vê como frustrante a ausência de lideranças políticas que consigam avançar nas "pautas reformistas", como fim do foro privilegiado.

"A maior frustração resultante de todo esse caso é o fato de que ainda faltam lideranças políticas que se sobressaiam com esse discurso em defesa aos trabalhos de investigação e com discurso reformista", disse o magistrado.


DEMOCRACIA

O magistrado relacionou o baixo apoio à democracia aos reiterados casos de corrupção. A parcela de brasileiros que apoia pelo menos uma forma de governo "não democrática" e que mostra simpatia por militares no poder é maior do que a média global, segundo um levantamento realizado pelo americano Centro de Pesquisas Pew em 38 países.

"Essa própria frustração que as pessoas manifestam em relação à democracia não é contra a democracia em si, mas é verificar que existem pessoas que se aproveitam de posições de poder para agir em benefício privado", afirmou.

Ele voltou a negar ter pretensões políticas. Disse que "as pesquisas perdem tempo quando colocam o meu nome".

Moro também comentou críticas a dois episódios protagonizados por ele. O magistrado defendeu sua presença na estreia do filme "Polícia Federal: a lei é para todos", inspirado na Lava Jato.

"Não fiz o filme. Não tenho controle sobre ele. Fui convidado para a estreia e fui. Não tem qualquer relação. Confesso que nem comi pipoca, como sugere uma foto", disse ele.

Ele disse também que a foto sorrindo ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) num evento "não significa nada".

"Fui num evento público em que, na organização, acabei ficando ao lado dele. O senador é espirituoso e tem seus momentos jocosos. Mas isso não significa nada, nenhuma aprovação de eventuais atos ilícitos do senador. A foto sugere mais do ela significa. Aliás, ela não significa nada", declarou Moro.

Ele não quis comentar os casos relacionados ao ex-presidente Lula, já condenado num dos processos.