sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

"Decisões de Ano-Novo", por Cláudia Costin


Folha de São Paulo


Pouco depois do Natal, pessoas de diferentes origens tomam decisões para o ano que se inicia, normalmente incluindo a aquisição de hábitos saudáveis, como perda de peso, prática regular de exercícios ou interrupção de vícios. Vez por outra, contemplam aprender coisas novas, seja línguas estrangeiras ou educação financeira, ou iniciar novas etapas na escolaridade formal, como concluir o ensino fundamental ou médio ou frequentar uma pós-graduação.

Por trás das decisões, uma percepção importante: somos responsáveis por nossa própria aprendizagem, mesmo que caiba ao Estado oferecer educação, organizar ou regular o serviço, em suas diversas etapas. E isso deve ser ensinado a crianças e adolescentes desde o início da escolaridade, afinal, aprendemos ao longo de toda a vida.

Em 2015, a Assembleia-Geral da ONU aprovou, entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, um específico sobre educação que estabelece que os países buscarão "assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos".

Em outros termos, a educação é um direito e é papel do Estado garantir que, em nenhuma circunstância, um ser humano seja privado de sua fruição, mas o sujeito é protagonista de sua vida e, como tal, deve buscar meios de se desenvolver intelectualmente, de acordo com sua idade e interesses.

Mas como podem adultos continuar a aprender, especialmente os que já concluíram várias etapas da educação formal? Tomo aqui a liberdade de incluir relato em primeira pessoa, que eventualmente pode, com as devidas adaptações, ajudar a quem, neste período de festas, quer fazer projetos para 2018.

Em 2007, decidi ler aquelas obras de que todos falam, mas poucos leram, ou seja, livros que marcaram a humanidade e se tornaram clássicos da literatura. 

Consultei várias listas, fiz a minha própria e comecei a leitura, nem sempre fácil, mas, no mais das vezes, extremamente prazerosa, sem outra motivação que não a oportunidade de conhecer o que gerações passadas quiseram nos transmitir como prazer estético ou reflexões sobre a condição humana.

Além disso, defino, a cada ano, uma programação de estudos, seja na minha área, políticas educacionais, ou em temas que me intrigam, como neurociência, filosofia ou história. Não procuro ser metódica demais: a aprendizagem demanda um pouco de bagunça e de observação apaixonada da natureza, de fenômenos sociais e políticos, ou de eventos que marcam nosso tempo.

Mas a cada ano, olhando para decisões de anos anteriores, gosto mais da sensação de estar no painel de controle de minha própria aprendizagem. Vale a pena tentar.