sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

"Resolução de recuperações judiciais pode injetar R$ 62 bi na economia", por Maria Cristina Frias

Silvia Zamboni - 3.ago.2016/Folhapress
Operadora Oi, em recuperação judicial deve R$ 51,83 bilhões
Operadora Oi, em recuperação judicial deve R$ 51,83 bilhões


Folha de São Paulo

Uma onda de aprovações de planos de recuperação judicial no fim deste ano tem o potencial de incorporar um montante de cerca de R$ 62 bilhões na economia.

A estimativa é baseada em dados levantados pela Alvarez & Marsal, multinacional especializada em operações de reestruturação.

A consultoria considera que cerca de 40% dos valores de dívidas que ficaram protegidas por recuperação judicial voltam a circular, diz Marcelo Gomes, diretor-geral da empresa no Brasil.

"O dinheiro relativo às reestruturações de companhias que não entraram em recuperação é ainda maior."

Os valores demoram para chegar às mãos dos credores –geralmente, os novos aportes servem para dar suporte para que as empresas consigam voltar a gerar resultados, diz Luis Vasco, da Deloitte.

"Os pagamentos são feitos com montantes que, na teoria, iriam para dividendos."

Eles acontecem em etapas, diz Osana Mendonça, da KPMG. "O primeiro que se beneficia são as fornecedoras e as terceirizadas que trabalham para as empresas."

O mais demorado é o dinheiro que volta para os grandes credores, que chega com deságio e em parcelas.

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Empreender com sotaque

Estrangeiros donos de empresas relatam espaço para novos negócios e boa vontade no país, mas reclamam de burocracia
Daniel Hatkof, decidiu vir para o Brasil depois de ver engavetado o plano de investimentos elaborado para a Warburg.

"Ouvi que não daria para um gringo, que não conhecia o país, empreender", conta ele, aos 36 anos de idade, em ótimo português.

Foi o bastante para Hatkof, que acreditava no potencial brasileiro, desembarcar em Florianópolis, disposto a aprender a língua e a cultura locais.

Logo, conheceu a burocracia nacional.

Ninguém sabia informar ao certo os trâmites para que um estrangeiro obtivesse um visto de trabalho.

Enquanto pesquisava, percebeu que quem tinha o celular trincado ficava 30 dias à espera do conserto.

Fundou, então, a Pitzi, que oferece proteção para celulares contra acidentes. Promete recompor smartphones em uma semana.

Depois de aportes recebidos, que somam cerca de US$ 16 milhões, a empresa já atende em todos os Estados do país e tem 63 funcionários. "Um erro inicial? Testar coisas pequenas. Devemos pesquisar coisas grandes e distintas", diz.

"O Brasil tem dificuldades, mas muitas oportunidades. Problema tem em qualquer lugar", diz, enquanto volta ao trabalho de Havaianas.

"Meus pais dizem: 'sete anos aí, já chega, não? Não, vem muito mais por aí", diz, Hatkof sorrindo.
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Para que um estrangeiro faça um investimento em um banco, é preciso ter uma autorização presidencial, afirma David Veléz, colombiano e sócio do Nubank.

"O país tem muitas barreiras e burocracias. O processo de abrir empresa é caro e demorado. Os impostos não só são altos, mas também difíceis de entender, assim como a parte laboral", lista.

O Nubank trabalha em um setor muito regulamentado, e é preciso ainda entender suas especificidades, diz.

As dificuldades são balanceadas, em parte, com boa vontade, segundo Veléz.

"A surpresa mais positiva tem sido a atitude do regulador –no nosso caso, o Banco Central. Eles ajudam, querem novos entrantes e concorrentes porque enxergam que há um custo da concentração bancária."

Isso se traduz em acesso para reuniões e em portas abertas para conversas.
Outro problema é falta de mão de obra capacitada para trabalhar com tecnologia que o Nubank precisa.

"Nós achamos bons programadores no Brasil, mas não em grande quantidade e tivemos que abrir um centro em Berlim para parte do setor de engenharia."

As características de brasileiros que podem gerar ineficácias, como atrasar, surgem se a cultura da empresa permitir, e na dele, não há espaço para isso, diz. "Aqui, tudo começa na hora."
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De executivo a sócio

Os anos de recessão foram justamente aqueles em que a Escale, do americano Matthew Kligerman, aumentou seu quadro de funcionários de 10 para 100, diz ele.

"Há problemas da crise e não podemos controlar, mas fazemos o possível dentro do que está no nosso âmbito."

A Escale usa ferramentas da web para gerenciar clientes de outras empresas.
Kiglerman veio ao Brasil em 2011, mas para ser executivo de banco. Ele trocou o emprego pelo negócio próprio depois de dois anos.

A trajetória é parecida com a de seu conterrâneo Nick Reese, da Xerpa, uma prestadora de serviços do setor de RH.

"Vim trabalhar em 2008, quando o Brasil estava bem."

Para ele, o país oferece oportunidades, mas não existem muitos empreendedores que as percebem.
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com FELIPE GUTIERREZIGOR UTSUMI e IVAN MARTÍNEZ-VARGAS