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Geraldo Alckmin (PSDB) bate o martelo no pregão que escolheu a CCR para gerir duas linhas do metrô |
FABRÍCIO LOBEL
TAÍS HIRATA
Folha de São Paulo
TAÍS HIRATA
Folha de São Paulo
Após uma disputa judicial que quase suspendeu a realização do leilão das linhas 5-lilás e 17-ouro do metrô, a CCR saiu vencedora da licitação, com uma proposta que excedeu em 185% a outorga fixa mínima exigida.
O certame foi realizado na manhã desta sexta-feira (19), e contou com a presença do governador e possível candidato à presidência Geraldo Alckmin.
"Esperamos ganhos de eficiência e qualidade de serviço para a população. Às vezes na vida pública, entre o falar e o fazer há um abismo. Em São Paulo não", disse.
O lance vencedor foi de R$ 553,88 milhões –bastante acima da outorga fixa mínima de R$ 194,3 milhões e da proposta concorrente, de R$ 388,5 milhões.
O consórcio ganhador é composto pela CCR (com 83% de participação) e pelo grupo Ruas Invest, que já atua no setor de mobilidade com três operações –entre elas, a linha 4-amarela do metrô de São Paulo.
A nova concessão da CCR se soma a outras seis no Estado: a Viaquatro, a Autoban, a Viaoeste, a Novadutra, a Spvias e o trecho oeste do Rodoanel.
"[o resultado] Mostra que a concessão é o caminho adequado para suprir a necessidade de investimentos do estado", disse Leonardo Vianna, presidente da CCR Mobilidade.
O grupo derrotou a proposta do consórcio liderado pela CS Brasil, do grupo JSL, que se associou à coreana Seul Metrô.
A CS Brasil, que detinha 99% do consórcio, atua no setor de mobilidade com operações municipais em cidades de menor porte, como Guararema e Mogi.
POLÊMICA
A realização do leilão foi confirmada só na noite de quinta (18), quando a Justiça de São Paulo derrubou a liminar que havia suspendido a realização do certame.
A decisão provisória, que atendia a um pedido dos vereadores paulistanos Sâmia Bomfim e Toninho Vespoli (ambos do Psol), criticava a obrigação contratual do governo estadual em compensar eventuais perdas de receita caso o número de passageiros não chegue ao planejado.
Além disso, a privatização das linhas sofre forte oposição do sindicato dos metroviários, que realizou uma paralisação na quinta (18) e um protesto na porta da B3, nesta sexta, durante o leilão.
Na última semana, os metroviários chegaram a dizer que têm fortes indícios que a CCR, empresa que já opera a linha 4-amarela, ganharia a licitação. Metrô e a CCR negam as acusações de direcionamento.
Para o sócio do escritório Azevedo Sette, Frederico Bopp Dieterich, o baixo número de concorrentes está ligado à complexidade dos projetos e à crise das empreiteiras envolvidas na Lava Jato. "Há cinco anos, seriam empresas que participariam da concorrência."
Além disso, os atrasos de obras do metrô por parte do governo estadual sinalizam aos investidores que os cronogramas prometidos não se cumprirão. Apesar de o contrato ter mecanismos de compensação em caso de atraso, isso gera insegurança e tira previsibilidade do projeto, afirma Marcos Ganut, sócio da consultoria Alvarez & Marsal.
Outro ponto que reduziu o interesse pelo leilão é a própria modelagem, já que a linha 5-lilás, considerada mais atrativa, foi licitada junto à 17-ouro –linha cuja viabilidade financeira é questionada por analistas.
AS LINHAS
Em construção desde 2012, a linha 17-ouro tinha previsão iniciar de ficar pronta em 2014, para a Copa. Mas, após vários atrasos, deverá ser entregue até 2019. Ela sai do aeroporto de Congonhas e seguirá até a estação Morumbi, da CPTM, na marginal Pinheiros.
Uma segunda etapa de construção da linha estava prevista até o bairro do Morumbi, passando por Paraisópolis. Mas o governo do Estado, diante da dificuldade de tocar o empreendimento e até o abandono da obra por parte de uma das empreiteiras contratadas, decidiu reduzir o percurso da linha.
A mudança no trajeto acabou derrubando a projeção de rentabilidade da linha. Ou seja, sem atender áreas muito populosas como Paraisópolis, a linha perdeu a capacidade de atrair grande parte do público que pagaria pela operação do sistema.
Já a linha 5-lilás, que parte da estação Capão Redondo e vai até a estação Brooklin (ambas na zona sul), é atualmente gerida pelo próprio Metrô, e está em expansão.
O trajeto deverá chegar até a estação Chácara Klabin, onde conectará com a linha 2-Verde. No caminho, ela ainda fará conexão com a linha 1-azul e 17-ouro.
As obras de expansão da linha chegaram a ser suspensas em 2010 após a Folha revelar que os vencedores dos lotes de construção da linha já eram conhecidos seis meses antes da licitação. O caso segue na Justiça, mas mesmo assim, Alckmin decidiu avançar com a obra firmando o contrato com as mesmas empresas.