quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Mais atores expressam seu arrependimento por trabalhar com Woody Allen

Jake Coyle, AP

NOVA YORK - Um número cada vez maior de atores está se afastando de Woody Allen e de seu próximo filme, chamando atenção para as dúvidas quanto ao futuro do prolífico cineasta de 82 anos, em uma Hollywood que agora se mostra sensível a alegações de má conduta sexual.

Timothee Chalamet disse que doará seu salário por um próximo filme de Woody Allen, para três instituições de caridade que lutam contra o assédio sexual e abuso: Time's Up, o LGBT Center em Nova York e RAINN. O ator, que fez sucesso com seu papel em Me chame pelo seu nome anunciou no Instagram que não queria lucrar com seu trabalho em Rainy Day in New York, de Allen que deve ser filmado este outono.
Woody Allen
O diretor Woody Allen  Foto: Yves Herman/Reuters
 "Eu quero ser digno de ficar ombro a ombro com os corajosos atores que estão na luta para que todas as pessoas sejam tratadas com o respeito e a dignidade que merecem", disse Chalamet.
+++ 'Roda Gigante', de Woody Allen, reabre as feridas de velhas acusações de assédio e abuso
Chalamet é o mais recente integrante do elenco de uma produção de Allen a manifestar arrependimento ou culpa por estar profissionalmente associado ao diretor. Nas últimas semanas, Rebecca Hall (A Rainy Day in New York, Vicky Cristina Barcelona), Mira Sorvino (Poderosa Afrodite), Ellen Page (Para Roma Com Amor), David Krumholtz (Roda Gigante) e Griffith Newman (A Rainy Day In New York), todos eles, de alguma forma, se distanciaram de Allen ou prometeram não mais trabalhar com ele.
O coro em ascensão sugere que a estrada à frente de Allen pode ser particularmente difícil, mesmo para um diretor cujas controvérsias pessoais tenham decorrido durante décadas, fazendo dele uma figura alternadamente amada e repudiada nos filmes. O apoio financeiro para o cineasta não diminuiu anteriormente, em parte devido à grande disposição de muitos astros de trabalhar com tal lenda da cinematografia. Mas montar um elenco de estrelas pode ficar cada vez mais difícil para Allen em uma indústria cinematográfica que está em meio ao acerto de contas promovido pelo Me Too.
 "Se eu soubesse, na época, o que sei agora, não teria atuado no filme", disse Greta Gerwig, que co-estrelou a comédia de Allen de 2012, Para Roma com Amor em entrevista ao The New York Times na semana passada. "Não trabalhei para ele novamente, e jamais o farei de novo. As duas cartas de Dylan Farrow me fizeram perceber que eu aumentara a dor de outra mulher, e eu fiquei de coração partido ao me dar conta disso".
Dylan Farrow, filha adotada de Allen, disse que ele a molestou em um sótão em 1992, quando ela estava com sete anos. Allen, que sempre negou as acusações, foi investigado pelo incidente, mas não foi acusado.
Farrow já questionou por que o movimento Me Too não mencionou Allen. Em um artigo publicado no mês passado no The Los Angeles Times, ela escreveu: "por que Harvey Weinstein e outras celebridades acusadas foram banidas de Hollywood, enquanto Allen recentemente firmou um multimilionário acordo de distribuição com a Amazon, aprovado pelo ex-executivo da Amazon Studios, Roy Price antes de este ter sido suspenso por acusações de má conduta sexual?
Price, ex-presidente da Amazon Studios, renunciou em outubro após a acusação de que havia assediado sexualmente a produtora de televisão Isa Hackett enquanto ela trabalhava na série da Amazon, The Man in the High Castle.
Rainy Day in New York é o quarto projeto de Allen com Amazon, que aposta fortemente no cineasta para ajudar a estabelecer o seu braço de produção cinematográfica como um lar para cineastas autorais. Segundo informações, a empresa gastou US$ 80 milhões para atrair Allen à televisão para fazer a série de 2016, Crisis in Six Scenes.
A Amazon, que não respondeu aos pedidos de entrevista na terça-feira, também distribuiu Café Society de Allen em 2016 e Roda Gigante, que estreou em 1º de dezembro nos EUA. Ele arrecadou apenas US$ 1,4 milhão no mercado americano, com um orçamento estimado em US$ 25 milhões, mas teve mais sucesso no exterior, rendendo US$ 7,8 milhões.
A Rainy Day in New York, comédia romântica que será lançada este ano, também traz atores como Selena Gomez, Jude Law, Liev Schreiber e Elle Fanning. Em sua declaração, Chalamet observou que devido a "obrigações contratuais" não poderia comentar as alegações de longa data contra Allen.
O anúncio de Chalamet, um dos concorrentes favoritos para o Oscar para de melhor ator este ano, seguiu outro semelhante, feito na sexta-feira pela atriz Hall. Ela disse que doaria seu salário do filme para a Time's Up, a iniciativa recentemente formada para combater a desigualdade entre homens e mulheres na indústria do entretenimento. "É um pequeno gesto e não visa recompensa", Hall escreveu no Instagram.
Muitos continuaram, porém, a apoiar publicamente Allen, incluindo Alec Baldwin: "Woody Allen foi investigado por dois estados (Nova York e Connecticut) e nenhuma acusação foi aceita", disse Baldwin na terça-feira no Twitter. "O repúdio a ele e ao seu trabalho, sem dúvida, tem algum propósito. Mas é injusto e triste para mim. Trabalhei três vezes com Woody Allen e esse foi um dos privilégios da minha carreira." / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO