domingo, 18 de março de 2018

Livro tenta ensinar gestão com história de inovadores


Steve Jobs, fundador da Apple, com um Macintosh, em 1984 - Paul Sakuma-24.jan.1984 / AP


John Thornhill, Financial Times
"Quirky" [peculiar] é um livro de negócios que faz jus ao título. Melissa Schilling produziu um passeio divertido e esclarecedor pelas vidas de oito "inovadores decisivos", discorrendo sobre seus talentos, personalidades e motivações notáveis.
O problema em serem tão extraordinários é que isso prejudica o segundo propósito do livro, que é o de ser um guia para executivos. Não importa o quanto a narrativa seja boa, "Quirky" termina sendo uma mistura estranha, e nada convincente, de biografia e teoria de gestão.
A vida do oito criadores excepcionais selecionados por Schilling serve como grande inspiração: Albert Einstein, Benjamin Franklin, Elon Musk, Dean Kamen, Nikola Tesla, Marie Curie, Thomas Edison e Steve Jobs.
Cada um deles é notável pela persistência quase sobre-humana e por realizações deslumbrantes em diversos campos. Mas também é difícil imaginar de que maneira uma empresa moderna poderia contratar alguém como eles.
Uma das características que definem esses inovadores é que quase todos eles foram, em diversas combinações, excêntricos, desajustados e malucos. O gênio deles muitas vezes está em desafiar as normas e as regras, algo que não ajuda a subir no mundo dos negócios.
O exemplo mais notável é Tesla, nascido durante uma tempestade de raios em uma aldeia croata, em 1856; ele se tornou um 'mago e gênio" a quem são atribuídas mais de 200 inovações nas áreas do rádio, da energia elétrica, de sistemas de distribuição, de lasers e de torpedos guiados.
O livro nos conta que Tesla escreveu muito sobre seu amor por um pombo que acreditava ser sua alma gêmea; ele também tinha forte aversão a objetos esféricos e era obcecado pelo número 3. No final da vida, costumava circundar três vezes qualquer edifício em que pretendesse entrar e não comia alimentos cuja massa cúbica não fosse divisível por três. Tesla também recebeu US$ 150 mil do banqueiro J. P. Morgan para construir uma torre de comunicação e gastou o dinheiro em outra coisa.
"A história de Tesla destaca a poderosa interação entre gênio e mania, dois traços comuns entre os inovadores decisivos", aponta Schilling com humor seco.

SOLITÁRIOS

A autora traça agilmente algumas das demais características peculiares das quais esses inovadores compartilhavam. Talvez a mais significativa seja que, com exceção de Benjamin Franklin, todos se sentiam de alguma forma isolados, separados, o que cria espaço para o pensamento original.
Essa é uma conclusão que pode ter efeito aplicável à vida empresarial.
Mencionando estudos psicológicos recentes, Schilling destaca os benefícios da solidão para a criatividade e os aspectos negativos do brainstorming e outras formas coletivas de criação, que, segundo ela, reforçam a tendência a pensar igual.
Os inovadores também tendem a ser intelectualmente onívoros, mesmo que nem todos tenham se saído bem na educação formal. Einstein fez muitas de suas mais notáveis contribuições para a física teórica quando trabalhava no serviço de patentes do governo suíço.
Eles também tendem a ter memórias notáveis, resiliência extraordinária e pouca necessidade de dormir.
Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um Nobel e por muitos anos a única pessoa a conquistar o prêmio em dois campos diferentes, trabalhava com afinco extraordinário.
Uma das primeiras lembranças de sua segunda filha é ver sua mãe desmaiar de cansaço. Mas Curie se mantinha ativa, com uma força de vontade e uma busca de eficiência impressionantes.
fazendo história
Essa visão muitas vezes permitia que os inovadores inspirassem outras pessoas a acompanhá-los, como era o caso de Steve Jobs.
Como recorda um de seus colegas na Apple, Jobs conseguiu convencer a equipe que estava desenvolvendo o Macintosh de que eles estavam fazendo história, e não apenas criando um excelente equipamento para escritório.
Algumas lições que Schilling extrai dessas vidas extraordinárias parecem um pouco artificiais. Como ela diz, a maioria das empresas prefere inovação gradual e não desordenadora, o que em geral requer trabalho de equipe e não inspiração repentina.
O ponto mais intrigante, com o qual Schilling encerra o livro, é que a inovação decisiva para a ciência muitas vezes não vem de pessoas que tenham seguido o percurso científico típico.
Isso torna ainda mais imperativo que alarguemos as oportunidades educacionais, permitamos que não cientistas tenham acesso a recursos e conhecimentos especializados da ciência e que lhes demos amplo espaço para que possam ser peculiares.

QUIRKY

AUTORA Melissa A Schilling
EDITORA PublicAffairs
QUANTO R$ 28,65
(e-book; 337 págs.)
FINANCIAL TIMES