segunda-feira, 19 de março de 2018

"Rastros da devastação", editorial da Folha de São Paulo

A maior empresa brasileira completou quatro anos consecutivos de prejuízos —ao todo, são quase R$ 72 bilhões acumulados.
Levando-se em conta o desempenho de 2017 e a estabilidade dos preços globais, é plausível que a Petrobras volte ao azul neste ano. As sequelas deixadas pelos desvios criminosos e pela má administração da empresa, porém, ficarão.
Nessa quadra, a empresa também ficou menor, em vários aspectos. Seus ativos perderam valor ou tiveram de ser vendidos —neste caso, para reduzir a dívida monstruosa acumulada durante o governo de Dilma Rousseff (PT), que ditava as linhas gerais da companhia.
O endividamento relativo atingiu o pico em 2014, quando chegou a 5,1 a relação entre os valores da dívida e os da capacidade de geração de receita. As causas foram investimentos ineptos e o represamento populista de preços.
O indicador de endividamento ainda está acima de 3, espécie de limite de tolerância. Se não fosse uma gigante que, em última instância, seria socorrida pelo Estado, a estatal poderia ter quebrado.
Tal risco, de todo modo, acabou por prejudicar o custo do crédito para o país entre 2014 e 2015. A hipótese de o governo ter de gastar a fim de socorrer a petroleira contribuiu para elevar as taxas de juros.
O valor dos ativos da companha foi revisto para baixo, empreendimentos foram cancelados e outros mostraram-se muito menos rentáveis do que imaginava a gestão petista, quando apresentavam alguma perspectiva de ganho.
Além de saqueada, a empresa se tornou um elefante branco de megainvestimentos fantasiosos.
No ano passado, o prejuízo caiu a R$ 446 milhões —o que parece pouco se comparado aos R$ 14,8 bilhões de 2016. O resultado negativo ainda é legado da gestão ruinosa do período Dilma Rousseff. Foi necessário, afinal, reservar mais de R$ 11 bilhões para arcar com um acordo judicial nos EUA, relativo a acusações de fraude.
Ainda que se confirme o lucro em 2018, o rastro da deterioração não estará apagado. Permanecem dívidas em excesso, e os investimentos estão em patamares historicamente baixos. A recuperação da Petrobras se dá, pois, de modo análogo à da economia do país.