terça-feira, 22 de maio de 2018

Dines: revolucionário na forma, exato no conteúdo, por Miriam Leitão

Alberto Dines, jornalista e escritor

O Globo

Alberto Dines era a técnica e a ética. Era a mudança revolucionária da forma e o esforço de melhorar o conteúdo. Era a busca da qualidade máxima no exercício do jornalismo em qualquer tempo. Na ditadura e na democracia, Alberto Dines mostrou o melhor caminho a seguir, por isso quando os colegas o chamam “mestre” é porque ele foi um professor múltiplo.
Nos jornais em que trabalhou sua marca foi a de modernizar os projetos gráficos, e buscar o máximo de exatidão da notícia dada. Mas, e quando há um obstáculo instransponível no caminho da informação que é uma ditadura impondo a censura prévia a alguns veículos? Para essa pergunta difícil ele deu belas respostas, na forma de capas inesquecíveis no Jornal do Brasil e em reportagens que marcaram época.
Quando chegaram os tempos democráticos, ele ensinou de novo o caminho. Era melhorar cada vez mais a qualidade. O papel do Observatório da imprensa de ser uma espécie de ombudsman do jornalismo em geral foi exercido no estilo dele. Menos bronca e mais estímulo. Ele queria incentivar o certo e não acusar colegas de erros. Ele demonstrava que o jornalismo de qualidade é aquele que se esforça diariamente para reduzir ao mínimo as suas falhas. E quando o assunto era polêmico, Dines dava um viva à polêmica, mas ele sabia conduzir a conversa sobre pontos de vista diferentes sem que isso virasse conflito pessoal.
Quando a mudança tecnológica chegou, Dines caminhou com ela para a televisão e para a internet, ensinando que a plataforma não era problema, todas elas podiam ser usadas para transmitir o centro do trabalho dos jornalistas: a informação.
Dines ensinava até nas pequenas coisas. Certa vez eu chorei num comentário da CBN. Falava da morte de Zilda Arns e não consegui terminar porque me emocionei. Fiquei um pouco encabulada. Dines liberou esse sentimento, escrevendo sobre o nosso direito de chorar. Lembrei dessa lição ao dar uma entrevista sobre ele assim que soube de sua morte. 
Chorar por ele sim. Podemos. Suas lições, contudo, ficarão são. É preciso aperfeiçoar a técnica e preservar valores. É preciso entender e gostar das mudanças na sociedade e na tecnologia. É importante manter a capacidade de se emocionar. Que o mestre Alberto Dines continue nos observando de onde estiver.